Audiência pública cumpre papel ao ouvir vozes da comunidade
A aguardada audiência pública sobre o desenvolvimento socioeconômico de Marabá reuniu mais de 400 pessoas na última sexta-feira, 11, na Câmara Municipal de Marabá. Presidida pela vereadora Irismar Melo, a audiência conta com a participação do senador Paulo Rocha, dos deputados federais Roberto Salame, Joaquim Passarinho e Júlia Marinho; deputado estadual João Chamon, vice-prefeito municipal Antônio Carlos Cunha Sá, além dos vereadores Alecio Stringari, Tiago Koch, Priscila Veloso, Cristina Mutran, Ronisteu Araújo, Antônio Márcio Gonçalves, Nonato Dourado, Ilker Moraes, Mariozan Quintão, Edinaldo Machado, Francisco Carreiro Varão, Gilson Dias e Cabo Rodrigo e Marcelo Alves.
Na pauta foram apresentadas questões como siderurgia, hidrelétrica em Marabá, Hidrovia Araguaia-Tocantins, revitalização das rodovias federais, revitalização do Distrito Industrial de Marabá, Zona de Processamento de Exportação (ZPE), Ferrovia Paraense (FEPASA) e Porto Público de Marabá.
A audiência foi aberta pela presidente da Câmara Municipal em exercício, Irismar Melo, e o primeiro a falar foi o senador Paulo Rocha, um dos responsáveis pela sugestão de realização do evento. Ele solicitou que o pequeno produtor seja incluído no processo de desenvolvimento criticou cortes federais nos recursos encaminhados aos municípios, além de citar retrocesso em políticas públicas.
Em seguida, o primeiro representante da comunidade a falar foi o presidente da Associação Comercial de Marabá (Acim), Ítalo Ipojucan, que apresentou os temas durante uma fala extensa na qual ressaltou a localização estratégica de Marabá, o que atrai oportunidades de transporte e fronteiras agrícolas. Ipojucan tratou da importância do escoamento de produção por transporte fluvial, citando a tão discutida hidrovia Araguaia-Tocantins como modal importante e o Porto Público de Marabá, associado ao projeto da hidrovia.
“O projeto deve ser resgatado para atrair novos investimentos, agregando empregabilidade e gerando melhora no índice de desenvolvimento humano”, declarou, ressaltando, ainda, a importância do projeto da Ferrovia Paraense (Fepasa) e cobrando engajamento da bancada federal neste assunto, além de citar a Alça Viária em torno dos Distritos Industriais de Marabá.
Defendeu que volte a ser discutido o projeto da Hidrelétrica de Marabá e exaltou a importância da mineração e siderurgia que passam a fazer parte de um eixo único através da Fepasa. Ipojucan também tratou das potencialidades do Distrito Industrial de Marabá, o qual precisa ser revitalizado, do desafio proposto para se verticalizar a produção local.
Rebatendo alguns destes posicionamentos, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Marabá (Simetal), Neiba Nunes Dias, defende que as ideias são boas no papel, mas em Marabá “se vive basicamente de esperança por projetos virtuais”. Para o sindicalista, a soja ocupa muito espaço físico e não gera emprego, lembrando que o setor de siderurgia está estagnado. Reclamou ser comum, próximo às eleições, vários projetos serem apresentados, porém engavetados após o período. Para ele, o Distrito Industrial da cidade é “um cemitério de recurso público”.
O presidente do Sindicato dos Urbanitários, Otávio Barbosa, também questionou os projetos, alegando serem minúsculos diante do que já foi apresentado anteriormente para a população, citando como exemplo o “Grande Carajás”. Ele aproveitou para alfinetar a Vale S. A, declarando que a mineradora não deixa na região nada do que extrai e que há muita propaganda para pouca ação. Por fim, defendeu a importância de se pensar primeiro no desenvolvimento humano antes de pensar na industrialização da região sul e sudeste do Pará.
O representante do Sindicato das Indústrias de Ferro Gusa do Pará, Zeferino Abreu Neto, o Zé Fera, reclamou que o setor guseiro foi sacrificado e que a classe nunca foi ouvida, mesmo que gerasse milhares de empregos. Ele pediu que os governos municipal e estadual se unam para alavancar o setor e afirmou que a classe quer preço diferenciado de minério para beneficiar o Distrito Industrial de Marabá, o que poderia voltar a gerar mais de 8 mil empregos. Pediu, por fim, interferência dos deputados junto ao governo estadual para diminuir as burocracias na concessão de licenças ambientais.
O fundador do Centro de Educação, Pesquisa e Apoio Sindical e Popular (Cepasp), Raimundo Gomes da Cruz, utilizou a tribuna durante a audiência para reclamar da própria audiência, a taxando de “inoportuna”. Conforme ele, o desenvolvimento debatido, como a mineração, faz o desalojamento das pessoas em vários municípios da região. “Precisamos reagir, porque a mineração é destruição para a região. Em todos os projetos, só há interesse dos ricos e não para os pobres”.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi representado por Rosa Reis, que declarou ser “em nome desse desenvolvimento” que o povo está morrendo e se desenraizando. “O agronegócio não é pop, não é top, ele mata o nosso povo de câncer, afasta os povos do campo. O povo não suporta a falta de políticas públicas no campo, a falta de vergonha da bancada, que diz que faz reforma agrária e não dá condições de trabalho para quem está dentro do mato”, disse.
De acordo com ela, o município de Marabá está sendo penalizado. “Os povos do campo do município estão penalizados. Dizem que os sem-terra são vagabundos, então vão vocês plantar na roça de enxada. Os filhos de vocês estudam no exterior para depois mandar dentro do Brasil. O desenvolvimento que vocês pregam destrói a Amazônia”, declarou.
O deputado federal Beto Salame usou a tribuna e parabenizou a Câmara pela forma protagonista como tem exercido seu papel. Logo em seguida, foi interrompido por manifestantes, alunos da Unifesspa.
Para garantir a fala do parlamentar, a presidente Irismar fez intervenção e lamentou que a política do ódio esteja sendo disseminada, e que a atitude não foi democrática, no que diz respeito a jogar ovo no deputado Beto Salame.
Retomando seu discurso o deputado Beto Salame falou que o episódio é lamentável, e que a turma que organizou essa ação não representa os estudantes da Unifesspa e os trabalhadores rurais. Beto prestou conta do seu mandato, com recursos destinados à Unifesspa. Destacou que é importante que se tenha mais um pouco de tolerância.
Disse que não adianta pensar em desenvolvimento se não houver legalidade e mencionou suas emendas para a região. Finalizou dizendo que é preciso a união de forças para acabar com o maior mal de hoje, que é o desemprego.
Ao usar a tribuna, o senador da República Paulo Rocha falou que esse não é o método do PT em discutir políticas públicas, com desrespeito, como o que ocorreu por parte de algumas pessoas. Disse que não existe um interesse homogêneo, e que a sociedade é plural e desigual. Por isso, de acordo com ele, é preciso compreender isso no debate e prezar pela democracia. Paulo Rocha disse que é preciso que todos os segmentos tragam suas propostas, de movimento dos empresários aos movimentos dos trabalhadores. Falou que existe um retrocesso no País e frisou que o modelo de desenvolvimento que está em pauta no Brasil, atualmente, é neoliberal e falido.
O senador ainda disse que é preciso lutar contra o capital estrangeiro e o “Sul Maravilha”, se referindo ao sul e sudeste do Brasil. Criticou a Lei Kandir e disse que não se quer apenas o porto para exportar as riquezas, mas que agregue valores aqui. Lembrou que a democracia é justamente esse conflito de interesses e que é importante unir a bancada pelos interesses da região.
Por fim, a vereadora Irismar Melo agradeceu aos colegas vereadores pelo esforço para realizar a audiência pública e elogiou o senador Paulo Rocha por sua disposição de ouvir as pessoas. Disse que representar a população com diversidade de problemas é grande desafio e dificilmente consegue agradar a todos. Também elogiou Ítalo Ipojucan pela parceria com a Câmara Municipal.
Ao final da Audiência Pública foi escrita uma “Carta de Marabá”, a ser encaminhada para a bancada federal, pedindo atuação política para ajudar a resolver os principais problemas discutidos no evento, além de solicitar recursos advindos de emendas parlamentares – individuais e de bancada – para financiar projetos de interesse da comunidade.