Câmara cobra resposta sobre morte de indígena após parto no HMI
Fato de grande repercussão nos últimos dias em Marabá, a morte da jovem indígena Yape Rê Anambé Guajajara, de 17 anos, que entrou na sala de parto do Hospital Materno Infantil (HMI) de Marabá para dar à luz pela primeira vez e veio a óbito, motivou denúncia por parte da família, que alega violência obstétrica e negligência.
De acordo com a tia da adolescente, Regilane Guajajara, que esteve na Sala das Comissões da Câmara durante reunião com o secretário de Saúde e acompanhou todo o caso, a paciente já se encontrava em Marabá desde o mês anterior, e em nenhum momento houve transferência por ambulância de Itupiranga para o HMI.
A tia não titubeou ao afirmar que os médicos tentaram induzir a sobrinha a ter parto normal e que, durante todo o procedimento, não houve assistência adequada por parte da equipe do hospital. “Ela sempre se queixando que não estava se sentindo bem. O médico fez o toque nela com três dedos na frente da mãe. Ela era menor de idade e atípica. Isso não se faz.”
Regilane também informou que houve discussão entre médicos para decidir se o parto seria normal ou cesariana. “Durante o parto, ela teve duas paradas cardíacas, teve convulsão, foi reanimada. Tomou três bolsas de sangue e, no ato da transferência para o Regional, nada disso foi relatado. Como é que a gente leva uma pessoa saudável e sai com ela dentro de um caixão dessa forma?”
A advogada do caso, Iracilene Guajajara, também apontou negligência por parte do Instituto Médico Legal (IML). “O IML emitiu um laudo superficial, externo, sem avaliação interna adequada, sem uma autópsia detalhada. Agradeço a todos que estiveram na rede de apoio contribuindo. Mas é preciso cobrar responsabilidade daqueles que devem cumprir seu papel.”
O secretário de Saúde foi pego de surpresa com as informações apresentadas pela tia da jovem, pois, segundo ele, havia sido informado que a parturiente fora encaminhada do município de Itupiranga — inclusive essa versão consta no relatório administrativo. “Foi dada entrada no HMI com sinais de pressão 16/9. O médico que avaliou disse que ela estava em um processo de pré-eclâmpsia, e o protocolo é aguardar para verificar se é possível um parto normal. Será aberta uma auditoria interna para elaborar um relatório e apurar se houve erro médico. A alegação é de violência obstétrica. Precisamos investigar a situação.”
Todos os vereadores presentes cobraram com veemência uma resposta para o caso de Yape e uma análise criteriosa sobre o que vem ocorrendo no HMI, diante das denúncias recorrentes nos últimos tempos.
Já na sessão desta terça-feira, o vereador indígena Ubirajara Sompré destacou que uma jovem de 17 anos deu entrada no Materno Infantil, grávida, e sofreu violência obstétrica, vindo a óbito. “Não sei qual o problema no Materno Infantil, mas quando não há passagem para o parto e é necessário fazer cesariana, o médico forçou a indução do parto. Ela teve convulsões e infartou dentro do HMI. Infelizmente, foi transferida ao Regional, mas faleceu no domingo. A verificação do óbito serve justamente para laudar corretamente e informar a família sobre a causa da morte. Houve muita demora por parte do IML. Precisamos apurar essa situação no Materno Infantil e no IML e responsabilizar quem for de direito.”
Todos os demais vereadores exigiram uma averiguação rigorosa dos fatos e defenderam uma investigação séria diante de um episódio tão grave em uma maternidade.