Câmara coloca Vale e DNIT na mesma mesa para discutir nova ponte sobre o Rio Tocantins
Na manhã desta segunda-feira, 27, a Câmara Municipal de Marabá, através de solicitação feita pelo vereador Leodato Marques, se reuniu com os representantes da Mineradora Vale e do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para discutir a duplicação que a mineradora pretende fazer da ponte rodoferroviária sobre o Rio Tocantins, que liga a Nova Marabá ao núcleo São Félix e Morada Nova.
Na avaliação do propositor da reunião, vereador Leodato da Conceição Marques, o fluxo de veículos entre os núcleos de Morada Nova, São Félix e Marabá se intensificou bastante nos últimos anos, sem contar a quantidade de veículos que cruzam a cidade pela rodovia BR-222. “Quando ocorre algum acidente no trecho de 2.310 metros da ponte sobre o Rio Tocantins, há um congestionamento quilométrico e atrapalha a vida profissional de milhares de pessoas”, observa Leodato.
Marques informou que a Vale bateu recorde de produção de 9% a mais do que o mesmo período no ano passado, relacionando os ganhos da empresa por conta da exportação de minério extraído do sul e sudeste paraense. “A nossa inquietação é porque essa duplicação será feita diante da necessidade de se aumentar a produção. Na duplicação será construída uma nova ponte, e a Vale não colocou no projeto as pistas rodoviárias, apenas ferroviária. Com isso, ficamos inquietos e não concordamos com isso. O investimento irá beneficiar unilateralmente apenas a mineradora. Construir apenas a ponte ferroviária isola o povo de Morada Nova e São Félix, o que dificulta muito a vida de quem mora naquela área.
João Coral, diretor de energia da Vale, falou do projeto de expansão da ferrovia, onde há também a duplicação da ponte. Segundo ele, essa é uma etapa fundamental para escoar o minério e aumentar a produção. “Pelas percepções da empresa, não temos ainda previsão nenhuma de quando iniciaríamos a duplicação da duplicação da ponte. Ela não é o gargalo no momento para escoar a atual produção da empresa, mesmo com a implantação do projeto S11D. Existe o projeto, mas ele é só ferroviário, mas não é nossa prioridade imediata. Nesse momento, pela nossa avaliação de demanda, essa duplicação ainda não é viável, não temos data e nem o projeto aprovado. Ela (a segunda ponte) será necessária, mas ainda não está clara a data para iniciarmos essa obra, talvez daqui a 10, 20 anos”, disse Coral.
Gerente de projetos logísticos, responsável pela duplicação da EFC, Lisbela Leal disse que a Vale está fazendo um estudo de viabilidade técnica e econômica para construir uma nova ponte. Lisbela considerou que a construção de uma nova ponte rodoferroviária talvez não seja a melhor saída para melhorar o sistema viário de Marabá. “Não é só uma ponte que vai resolver o problema. Há todo um problema viário que precisa ser analisado de forma mais ampla. Acho que o projeto que o DNIT está elaborando seja mais adequado e resolva o gargalo viário da cidade”, analisou ela.
Ao usar da palavra, o deputado federal Beto Salame observou que o momento é oportuno para o debate e elogiou a iniciativa da Câmara através do vereador Leodato Marques, de convidar a Vale para tornar público o projeto que está previsto. Ele vê sinais de crescimento no valor do minério no mercado internacional e acredita que o cenário do mercado vai melhorar em breve e que pediu que a Vale inclua no estudo de viabilidade técnica a parte rodoviária, o maior desejo do povo de Marabá. “Como a Vale é uma empresa cidadã, é preciso que essa relação não pare”, sugeriu o deputado.
O vereador Guido Mutran alertou que a quantidade de vagões que tem saído de Carajás vem aumentando nos últimos meses. Para ele, independente do valor do minério, a quantidade extraída desta região está maior e perguntou se a ponte atual está preparada para um fluxo mais denso de trens pelo aumento da demanda de carga. Guido viu a necessidade de uma linha férrea que atenda de Morada Nova a Marabá, ajudando a desafogar o trânsito dessas duas áreas da cidade.
Enilson Rocha, supervisor local do DNIT, revelou aos vereadores que há um projeto em andamento na direção do departamento, em Brasília, que prevê melhoria no sistema viário do município fazendo uma interligação por alça viária, que englobaria o desvio da BR-230 para o projeto Alpa, construindo uma segunda ponte sobre o Rio Tocantins às proximidades da área do 52º BIS (Batalhão de Infantaria de Selva), ligando o núcleo São Félix.
Para Enilson, construir uma ponte nos moldes da atual pode ser perigoso, cometendo os mesmos erros do passado porque a atual não foi contemplada 100% com relação à segurança dos usuários, tendo ocorrido morte de algumas pessoas. “Esse estudo está na parte final e está sendo realizado há mais de um ano. Ele apresenta quatro alternativas”, revelou.
Ao usar da palavra, o vereador Miguel Gomes Filho sugeriu ao representante do DNIT e aos da Vale para que juntos elaborem um estudo técnico para analisar a viabilidade da construção da ponte ferroviária junto com a rodoviária para servir de parâmetro para comparações.
Por sua vez, João Coral alertou que é preciso analisar toda a demanda, inclusive o Plano Diretor do Município. Para ele, atualmente, se colocar rodovia junto com ferrovia haverá problemas e talvez não atinja o objetivo de melhorar o sistema viário do município.
Leodato Marques acredita que o projeto do DNIT para a alça viária terá impacto ambiental muito grande e vai demorar muito para ser construído. “Queremos um compromisso de que será feito estudo para uma ponte rodoferroviária. Não há possibilidade de fazer ponte só ferroviária, porque o povo de Marabá não vai concordar”, avisou.
O vereador Coronel Araújo pediu para que a Vale respeite Marabá e seus governantes. “Não podemos abrir mão da parte rodoviária numa nova ponte. Se isso não acontecer, a população vai ficar mais decepcionada com os políticos. É importante que saia daqui um compromisso e questionou por que a empresa não fez estudo da parte rodoviária junto com a ferroviária? Se a Vale não fizer o estudo de viabilidade técnica da parte rodoviária, não podemos aceitar outra proposta”, sugeriu Araújo.
Contundente, a vereadora Vanda Américo disse que nem DNIT nem Vale esclareceram a sociedade sobre os projetos que estão elaborando. “Governo federal e Vale vêm com propostas indecentes para fazer ponte ferroviária sem as pistas rodoviárias. Isso ocorre por falta de organização nossa, da classe política. É preciso respeitar a cidade. A prioridade é a comunidade e espera que a Vale não sente às escondidas com o prefeito (João Salame). Estamos questionando a mineradora desde a época em que era estatal”, lembra.
Vanda sugeriu que o diálogo com o DNIT ocorra na esfera federal, em Brasília, e pediu que a Câmara exija da diretoria do DNIT um estudo de construção de uma ponte rodoferroviária. “Construir uma ponte só para o monopólio da Vale é inviável”, criticou.
Para a vereadora Júlia Rosa, a construção de uma nova ponte rodoviária é o mínimo que a Vale deveria retribuir a Marabá pela duplicação da Estrada de Ferro Carajás e por tudo que já retirou daqui. “Queremos outro momento de relacionamento com a Vale, que não tem dever de assumir responsabilidade do poder público. Precisamos analisar de que forma vamos duplicar a ponte ferroviária com a rodovia”, disse Júlia.
A vereadora Irismar Araújo Melo ponderou que o grande desafio para representantes institucionais é procurar saídas mais justas para os problemas enfrentados pela sociedade. “No início da década de 1980, quando foi construída a ferrovia, esta atenderia apenas a Vale e só depois foi incluída a parte rodoviária. Por que 30 anos depois, temos ainda uma ponte sem iluminação? Essa é uma necessidade básica, mas até hoje há esquiva de responsabilidade de quem deve ou não iluminar a ponte”, lamentou.
Irismar sugeriu que se pense no ser humano que utiliza todos os dias aquela obra de 2.310 metros para transitar de um lado a outro da cidade, sendo esta a maior ponte dessa natureza na Amazônia e clamou por um projeto para iluminar a ponte já existente.
Ela também pediu aos representantes da Vale para que discutam os projetos de interesse de toda a sociedade com representantes da coletividade, sem que o diálogo seja feito apenas com o prefeito. “A duplicação da ferrovia tem de vir com a parte rodoviária. Não queremos transferir responsabilidade, mas compartilhar, porque o objeto de extração da Vale (minério) é finito. Precisamos saber equacionar os problemas existentes porque temos compromisso com as futuras gerações”, apontou Irismar.
Ao usar da palavra na reunião, o prefeito João Salame Neto disse que Marabá quer ser sócia da Vale e avaliou que a empresa, durante anos, não viu o município nessa perspectiva. “Não sou capaz de afirmar que a Vale não está fazendo nada por Marabá. Há mudança em relação à postura da empresa com este município. Na duplicação da ferrovia, Marabá ganhou 32 quilômetros de pavimentação, além de outras demandas”, reconheceu.
Para o prefeito, quando os vereadores reivindicam que a ponte seja também rodoviária, é que o lado de São Félix e Morada Nova cresceu demais. Para ele, um grande projeto precisa estar do lado da comunidade também. “Precisamos destacar que a Vale tem sido parceira, mas se a duplicação acontecer neste meu mandato, a obra só sai se tiver a parte rodoviária. Se não, nós, a classe política e a comunidade, vamos impedir a construção do canteiro de obras. Quando a gente briga por nossos interesses, somos inconsequentes. Só vamos recuar se derem muita porrada na gente, com Exército e Polícia Federal. Vamos usar todo o nosso poder de pressão para cobrar a ponte com a parte rodoviária”, avisou o prefeito.
Salame disse que Vale e DNIT precisam se entender sobre o estudo, porque o que Marabá quer é a duplicação de Morada Nova até o Distrito Industrial. “Não estamos preocupados se é o DNIT que vai pagar. Não me interessa de onde vem o dinheiro, até acho que a Vale deve pedir ajuda do DNIT”, ponderou o gestor.
Ele também sugeriu a criação de um grupo de trabalho com representação do DNIT para marcar audiência com o ministro dos Transportes e presidente nacional do DNIT para elaborar proposta com vetor rodoviário para a nova ponte. “Há engenharia para tudo, até para aeroporto dentro do mar. Como não vamos encontrar solução para uma ponte rodoviária junto com a ferroviária em Marabá?”, indagou.
Ao final, João Coral disse que o estudo da ponte está sendo discutido com o DNIT e que a proposta do prefeito vai ser analisada. “Precisamos buscar formas de viabilizar esse projeto. Não somos inimigos de Marabá, mas parceiros. É dever nosso buscar formas de solucionar os problemas. Uma ponte rodoferroviária pode custar o dobro ou triplo da ferroviária, mas vamos analisar essa probabilidade e estamos abertos para o diálogo”, disse Coral.