Câmara devolve mandato de vereador cassado pela Ditadura Militar há 51 anos
Na noite desta quinta-feira, 7, a Câmara Municipal de Marabá realizou Sessão Solene para retomada do mandato do ex-vereador Raymundo Olívio Cardoso Rosa, que teve seu mandato cassado pela Ditadura Militar em 13 de junho de 1964. A cerimônia foi presidida por Miguel Gomes Filho, o Miguelito, e contou com a presença de familiares de Raymundo Rosa e de dezenas de pessoas.
Na abertura dos trabalhos, Miguelito exaltou a atuação de Raymundo Rosa como político e cidadão e disse que ele foi uma das figuras mais emblemáticas que ele conheceu.
A vereadora Júlia Rosa agradeceu aos colegas vereadores pelo resgate da memória de seu pai e pela retomada simbólica do mandato de vereador de seu pai. “Agradeço de todo o coração a deferência feita por você, Miguelito, de que eu falaria hoje em nome de meus colegas. Mas meu coração hoje não tem outro sentimento que não seja de gratidão a todos os vereadores”, disse Júlia.
A vereadora lembrou que quando tinha 13 anos, conviveu com a dor do fantasma de ter seu pai preso e sem a família saber onde ele estava e seu estado. “Vi minha mãe chorando pelos cantos e assim pude compreender, ainda nova, a luta por uma sociedade mais justa e pela garantia de lutar pelos direitos. Isso tudo nos impôs o sacrifício e nos conduziu a um amadurecimento precoce”, disse Júlia, observando que aprendeu a admirar seu pai, Raymundo Rosa, que não acumulou bens materiais, mas deixou um legado de honradez, justiça e honestidade para os filhos.
Júlia Rosa lembrou que seu pai foi o único vereador cassado por subversão ao Regime Militar na região Norte e que foi muito injustiçado em sua toda sua vida. “Ele só subverteria a ordem se fosse para lutar pelos direitos dos menos favorecidos. Tenho orgulho imenso de ser filha de Raymundo Rosa e dona Afif”, destacou.
Também usou da palavra na cerimônia Jurandir Porto Rosa, advogado aposentado que reside em Fortaleza-CE e filho de Raymundo Rosa, que recebeu o título de Cidadão Marabaense na mesma Sessão Solene. Com um discurso brilhante, que fez os presentes o aplaudirem de pé, Jurandir considerou que é a devolução do mandato de seu pai como vereador é um resgate da justiça. “Foi preciso, para essa restituição justa, que a democracia vencesse a ditadura, que a liberdade vencesse a opressão. A ditadura roubou o mandato do Raymundo, enquanto a democracia o devolveu. Fui surpreendido com o fato de que a Câmara resolveu me homenagear com o título de Cidadão Marabaense, pelo que fico muito feliz com a comenda”, disse ele.
Abiancy Cardoso Rosa, representando o prefeito João Salame, disse que talvez a nova geração pouco conheça a história da Ditadura Militar. “Ela está sendo revolvida agora, não com o sentimento de revanchismo, mas porque foi devolvido a meu tio, ainda que in memoriam, seu mandato de vereador. Talvez as gerações atuais não consigam estabelecer vínculo com o passado para mensurar o que representou a Ditadura Militar para a Nação e nossa região, de forma específica. Ela teve um preço que custou vidas e parabenizo a presidência dessa Casa por esse resgate”, disse Bia.