Câmara realiza seminário para discutir hidrovia, agronegócio e verticalização mineral
Como projeto de iniciativa da nova Mesa Diretora da Casa, presidida pelo vereador Miguel Gomes Filho, o Miguelito, a Câmara Municipal de Marabá iniciou ontem, 24, uma série de debates relevantes ao município de Marabá e região. De acordo com o presidente, os temas serão os mais diversos e abrangerão não apenas os grandes projetos previstos para Marabá, como também saúde, educação, infraestrutura, segurança, sempre com especialistas nas temáticas.
Segundo Miguelito, o intuito do projeto é prover informação e dar conhecimento técnico aos parlamentares sobre os mais diversos assuntos para que o vereador, municiado de dados, tenha uma atuação mais qualificada no exercício da função.
Na tarde desta terça-feira, 24, o ex-proprietário da Siderúrgica Simara, Divaldo Santos apresentou palestra durante três horas na Sala das Comissões da Câmara Municipal de Marabá para vereadores e assessores. Divaldo, que é um executivo de renome e profundo conhecedor do sistema econômico que a hidrovia possibilitará, trouxe conteúdo importante para o debate, inclusive afirmando que para Marabá, é mais importante que a hidrovia venha sem eclusas e que a verticalização mineral, nos moldes da Alpa, não é interessante para a cidade.
De acordo com o palestrante, isso tornaria Marabá, necessariamente, um entreposto de soja, criando uma cadeia produtiva em torno do produto. “Marabá não deveria ter o menor interesse de que se construa eclusa, pois não beneficiará a cidade, porque dessa forma a indústria vertical da soja não se instalará aqui”, avalia o empresário.
Divaldo ainda trouxe informações macro de mercado de produção do Brasil e do mundo, afirmando que é necessário que se crie logística para o escoamento da produção nacional e, nesse cenário, a hidrovia do Tocantins Araguaia é de fundamental importância. Ele apresentou um estudo que indica que o Brasil, em 2020, será o maior supridor do mercado mundial.
O empresário informou que a produção de soja mundial é dominada por Brasil, Estados Unidos e Argentina, e o Brasil é quem tem o maior espaço para crescimento. “O Brasil gasta 92 dólares por tonelada entre a lavoura e o porto, e nos EUA e Argentina é bem menor o custo. E 54% da produção nacional de soja advém do Norte e Nordeste, e é exportado por Santos, Paranaguá e São Francisco do Sul. O destino da exportação brasileira é prioritariamente para China, que fica com 50% da soja e do milho”.
Divaldo ainda explanou sobre o custo médio dos modais de transportes, enfatizando que a hidrovia é 120% mais barata que a ferrovia e 430% do que a rodovia. “Não tenho medo de dizer que a Baía do Guajará (situada no norte paraense) será o maior entreposto de soja do mundo”.
Por fim, o palestrante disse ser fundamental que Marabá crie uma Agência de Desenvolvimento no município, com suporte e condições de fomentar o desenvolvimento e atrair investidores.
Em seguida, os vereadores fizeram alguns questionamentos e se posicionaram sobre o tema explorado na reunião. Por sugestão do presidente do Legislativo, a cada pergunta o palestrante respondia em seguida.
Alecio Stringari questionou se o crescimento da lavoura de soja não prejudica a pecuária e como resolver os problemas históricos das terras paraenses, como a falta de documentação e o limite de desmatamento imposto pelo governo. Divaldo afirmou ao vereador que quando se planta soja não se diminui o rebanho, e que na entressafra se produz milho, o que segundo ele, mantém o rebanho bovino sem maiores desmatamentos.
Vanda Américo lembrou que o porto público de Marabá era para estar pronto. “Se tivéssemos esse porto, ele seria mais um elemento para impulsionar a implantação dessa hidrovia. Os companheiros que estavam no conselho não lutaram na época da Ana Júlia. E até agora não conseguimos realocar esse valor para o porto. Algumas lideranças empresariais não conduzem as coisas com retidão”, criticou Vanda.
A vereadora Júlia Rosa propôs a criação de uma agenda positiva com prioridades para alavancar a hidrovia.
Já a vereadora Irismar Melo advertiu que é preciso que a Agência de Desenvolvimento pense não apenas na questão do crescimento econômica, mas tenha também uma visão macro das necessidades sociais e ambientais. “Marabá já viveu vários ciclos, todos eles de exploração e extrativistas, deixando ônus social para a população”, lamentou a vereadora.
Pedro Correa reconheceu que a CMM está propondo um seminário para debater os grandes empreendimentos em Marabá e opinou que a Associação Comercial de Marabá (ACIM), por muitas vezes deixa esse poder fora das discussões, e ressalvou que é preciso socializar mais as informações.
Último a fazer uso da palavra, o vereador Miguel Gomes Filho lembrou aos participantes que a Agência de Desenvolvimento de Marabá já existiu e, que, inclusive, ele foi o primeiro presidente. Miguelito disse que o debate democrático enriquece os participantes, e discordou em dois pontos da exposição do Divaldo. Para o vereador, diferentemente do que pensa o empresário, a Alpa seria positiva para Marabá, pois traria benefícios com o polo metal mecânico, gerando empregos e atraindo empresas.
Além disso, o presidente da Câmara contrapôs a argumentação do palestrante de que a hidrovia sem eclusas é mais interessante para Marabá. “E eu penso na hidrovia Araguaia Tocantins como um todo, gerando desenvolvimento para toda a região, diminuindo a pobreza, que é predominante na nossa região”.