Câmara realiza seminário para discutir hidrovia, agronegócio e verticalização mineral

por hugokol — publicado 26/03/2015 08h35, última modificação 14/04/2016 09h05
Realização de eventos semanais para discutir propostas de desenvolvimento partiu do presidente do Legislativo

Como projeto de iniciativa da nova Mesa Diretora da Casa, presidida pelo vereador Miguel Gomes Filho, o Miguelito, a Câmara Municipal de Marabá iniciou ontem, 24, uma série de debates relevantes ao município de Marabá e região. De acordo com o presidente, os temas serão os mais diversos e abrangerão não apenas os grandes projetos previstos para Marabá, como também saúde, educação, infraestrutura, segurança, sempre com especialistas nas temáticas.

Segundo Miguelito, o intuito do projeto é prover informação e dar conhecimento técnico aos parlamentares sobre os mais diversos assuntos para que o vereador, municiado de dados, tenha uma atuação mais qualificada no exercício da função.

Na tarde desta terça-feira, 24, o ex-proprietário da Siderúrgica Simara, Divaldo Santos apresentou palestra durante três horas na Sala das Comissões da Câmara Municipal de Marabá para vereadores e assessores. Divaldo, que é um executivo de renome e profundo conhecedor do sistema econômico que a hidrovia possibilitará, trouxe conteúdo importante para o debate, inclusive afirmando que para Marabá, é mais importante que a hidrovia venha sem eclusas e que a verticalização mineral, nos moldes da Alpa, não é interessante para a cidade.

De acordo com o palestrante, isso tornaria Marabá, necessariamente, um entreposto de soja, criando uma cadeia produtiva em torno do produto. “Marabá não deveria ter o menor interesse de que se construa eclusa, pois não beneficiará a cidade, porque dessa forma a indústria vertical da soja não se instalará aqui”, avalia o empresário.

Divaldo ainda trouxe informações macro de mercado de produção do Brasil e do mundo, afirmando que é necessário que se crie logística para o escoamento da produção nacional e, nesse cenário, a hidrovia do Tocantins Araguaia é de fundamental importância. Ele apresentou um estudo que indica que o Brasil, em 2020, será o maior supridor do mercado mundial.

O empresário informou que a produção de soja mundial é dominada por Brasil, Estados Unidos e Argentina, e o Brasil é quem tem o maior espaço para crescimento. “O Brasil gasta 92 dólares por tonelada entre a lavoura e o porto, e nos EUA e Argentina é bem menor o custo. E 54% da produção nacional de soja advém do Norte e Nordeste, e é exportado por Santos, Paranaguá e São Francisco do Sul. O destino da exportação brasileira é prioritariamente para China, que  fica com 50% da soja e do milho”.

Divaldo ainda explanou sobre o custo médio dos modais de transportes, enfatizando que a hidrovia é 120% mais barata que a ferrovia e 430% do que a rodovia. “Não tenho medo de dizer que a Baía do Guajará (situada no norte paraense) será o maior entreposto de soja do mundo”.

Por fim, o palestrante disse ser fundamental que Marabá crie uma Agência de Desenvolvimento no município, com suporte e condições de fomentar o desenvolvimento e atrair investidores.

Em seguida, os vereadores fizeram alguns questionamentos e se posicionaram sobre o tema explorado na reunião. Por sugestão do presidente do Legislativo, a cada pergunta o palestrante respondia em seguida.

Alecio Stringari questionou se o crescimento da lavoura de soja não prejudica a pecuária e como resolver os problemas históricos das terras paraenses, como a falta de documentação e o limite de desmatamento imposto pelo governo. Divaldo afirmou ao vereador que quando se planta soja não se diminui o rebanho, e que na entressafra se produz milho, o que segundo ele, mantém o rebanho bovino sem maiores desmatamentos.

Vanda Américo lembrou que o porto público de Marabá era para estar pronto. “Se tivéssemos esse porto, ele seria mais um elemento para impulsionar a implantação dessa hidrovia. Os companheiros que estavam no conselho não lutaram na época da Ana Júlia. E até agora não conseguimos realocar esse valor para o porto. Algumas lideranças empresariais não conduzem as coisas com retidão”, criticou Vanda.

A vereadora Júlia Rosa propôs a criação de uma agenda positiva com prioridades para alavancar a hidrovia.

Já a vereadora Irismar Melo advertiu que é preciso que a Agência de Desenvolvimento pense não apenas na questão do crescimento econômica, mas tenha também uma visão macro das necessidades sociais e ambientais. “Marabá já viveu vários ciclos, todos eles de exploração e extrativistas, deixando ônus social para a população”, lamentou a vereadora.

Pedro Correa reconheceu que a CMM está propondo um seminário para debater os grandes empreendimentos em Marabá e opinou que a Associação Comercial de Marabá (ACIM), por muitas vezes deixa esse poder fora das discussões, e ressalvou que é preciso socializar mais as informações.

 

Último a fazer uso da palavra, o vereador Miguel Gomes Filho lembrou aos participantes que a Agência de Desenvolvimento de Marabá já existiu e, que, inclusive, ele foi o primeiro presidente. Miguelito disse que o debate democrático enriquece os participantes, e discordou em dois pontos da exposição do Divaldo. Para o vereador, diferentemente do que pensa o empresário, a Alpa seria positiva para Marabá, pois traria benefícios com o polo metal mecânico, gerando empregos e atraindo empresas.

Além disso, o presidente da Câmara contrapôs a argumentação do palestrante de que a hidrovia sem eclusas é mais interessante para Marabá. “E eu penso na hidrovia Araguaia Tocantins como um todo, gerando desenvolvimento para toda a região, diminuindo a pobreza, que é predominante na nossa região”.