Câmara realiza Sessão Especial de Conscientização do Outubro Rosa

por hugokol — publicado 26/10/2016 08h58, última modificação 26/10/2016 08h58
Evento foi marcado por palestras, depoimentos e cobranças de mamógrafo por parte de mulheres e vereadores

Na manhã desta terça-feira, dia 25, a Câmara Municipal de Marabá realizou uma Sessão Especial do Outubro Rosa, com o objetivo de discutir com a sociedade local as dificuldades existentes no setor público para diagnosticar e tratar os cânceres de mama e de colo de útero.

A sessão foi presidida pela vereadora Irismar Araújo Melo, mas contou também com a presença das colegas Antônia Carvalho (PT) e Vanda Américo na Mesa Diretora, ambas membros da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos da Mulher. Também foram convidadas para a Mesa Diretora Katarina Kátia, Gilmara Neves, Cláudia Chini e Rosalina Isoton.

Na abertura, o médico e oncologista Rodolfo Amoury proferiu palestra sobre “Câncer na mulher: diagnóstico precoce e tratamento”. Na avaliação dele, o papel das mulheres com Outubro Rosa é mostrar para a sociedade local que câncer não é sentença de morte. “Quando está em estágio inicial, tem mais de 95% de cura. A prevenção é exatamente se antecipar. Mesmo sem sentir nada, sem sintomas, você precisa procurar auxílio médico”, alertou.

Segundo ele, o principal fator de risco é a idade. “Quanto mais velho vamos ficando, maiores as chances de termos câncer. O auto-exame é muito importante, desde que a paciente tenha certeza que não tem nada. O auto-exame por si só não é encorajado pela Sociedade Brasileira de Mastologia”, destacou.

O médico disse ainda que grupos de oração ajudam, mas não se pode desmotivar qualquer tratamento. “A medicina não foi feita pelo diabo, é instrumento de Deus para chegar à cura. O religioso que proclama cura total não está sendo honesto”, advertiu.

O médico disse ainda que é preciso que o serviço público faça sua parte para atender os pacientes de oncologia com qualidade. “Chegamos a fazer uma proposta para se montar uma ala de oncologia no Hospital Municipal de Marabá, mas não saiu. Mesmo assim, vamos continuar com o mesmo entusiasmo e lutando pelas conquistas para melhorar o diagnóstico e tratamento”.

Mayana Stringari, estudante de Fisioterapia, disse que faz TCC sobre paciente oncológico. A doença, segundo ela, é de difícil tratamento, mas é preciso que seja encarado com resiliência. “A dor é uma das coisas que mais afetam o paciente oncológico, e essa dor precisa de cuidados urgentes. A fisioterapia tem um leque de tratamento em relação ao paciente oncológico, devolvendo a independência e melhorando a qualidade de vida”.

Coordenadora da Saúde da Mulher, Camila Lopes Chagas apresentou o calendário de atividades do Outubro Rosa. Ela esclareceu algumas dúvidas e sustentou que é preciso relembrar o assunto permanentemente para que as mulheres se cuidem, detectando precocemente o câncer de mama. “Devemos, antes de falar em curar, tratar, discutir a prevenção.

Segundo ela, o autoexame é necessário e comprovado por organismos munidas de atuação. E deve ser feito uma mamografia de rastreamento a cada 2 anos. “A mamografia é oferecida pelo SUS por todo o ano, infelizmente sofremos dessa mamografia nos últimos 2 meses, em Marabá”, sustentou Camila.

Falou que existem 12 problemas detectados pela SMS e por ela, e um deles é o revelador. “Onze foram resolvidos ao longo dos últimos 2 meses, e apenas o revelador não foi”. Falou que está representando a secretaria nesse evento não é fácil. Disse ainda que tem de se fazer gestão com a ajuda da comunidade. “A mamografia em Marabá estava sendo feita, e parou dois meses. Existe mamógrafo parado, que poderia estar sendo usado”.

Aparecida Ferreira, coordenadora do Grupo Apoio e Esperança, disse o grupo dá sustentação moral e informações às pessoas que estão iniciando o tratamento de câncer. Revelou que em 2013 foi diagnosticada com câncer de mama e descobriu a importância de estar integrada a um grupo para apoio mútuo. “Antes, éramos apenas pacientes oncológicos, mas hoje temos muitos membros de outras patologias”.

Gilmara Mendes lamentou que poucas mulheres tenham vindo à Sessão Especial do Outubro Rosa. Segundo ela, alegaram que há omissão aos direitos garantidos por lei.

Só em Marabá, segundo levantamento que o grupo fez, há mais de 800 pessoas com câncer. “Elas não têm tratamento em Marabá e no Pará e algumas tratam no Maranhão, Tocantins, Piauí, São Paulo e em outros estados. Precisamos não apenas Outubro Rosa diferente, mas ações eficazes”, advertiu.

Gilmara apresentou o cenário do Outubro Rosa em 2015 e lembrou que havia demora na entrega dos laudos de câncer; falta de atendimento ideal, porque a quantidade de equipamentos era insuficiente; Havia mamógrafo na caixa desde 2013; falta de médicos na atenção básica, morte devido a atraso de início de tratamento; TFD (Tratamento Fora do Domicílio) com atrasos e péssimas condições de transportes nas idas a Belém.

Em 2016, segundo ela, o cenário é um pouco pior. “Ainda há demora na entrega de laudos devido a problemas com internet; falta de atendimento ideal devido à quantidade insuficiente de equipamentos; morte devido a atraso de início de tratamento; mamógrafo na caixa desde 2013; e falta de médico ginecologista nas unidades básicas de saúde; TFD com atraso desde 2015 e os pacientes que ficam na hospedagem do Hospital só recebem R$ 4,00 de diária e o hospital também não recebe o dinheiro”.

Gilmara reconheceu que houve melhora no sistema de transporte para pessoas em tratamento de câncer, ao mudar a empresa prestadora de serviço. Todavia, de acordo com ela, por falta de pagamento, uma das empresas abandonou o serviço e as passagens aéreas foram suspensas. “Além disso, não estão fazendo nenhum exame oferecido à mulher por falta de material (revelador). Há aumento de casos de câncer, mas descaso do poder público com a saúde básica”, lamentou.

Ao final de seu discurso, Gilmara convidou todos os presentes para cantar, ironicamente, “Parabéns pra você” em comemoração aos quatro anos em que o mamógrafo foi enviado para Marabá e continua guardado em uma caixa na sede do Crismu. “Não é só mulher que precisa fazer mamografia. Que vocês, homens, não deixem para depois, porque mesmo sendo homens, vocês têm muitos peitos por aí: mães, mulheres, filhas”, concluiu Gilmara.

A advogada Cláudia Chini também ministrou palestra para falar sobre os direitos da mulher e mostrou como o SUS financia todas as fases, desde a prevenção, passando pelo diagnóstico e tratamento. “Para onde foram os recursos enviados pelo governo federal. Isso é descaso e crime de responsabilidade. Esta Casa precisa denunciar ao Ministério Público Federal sobre o mamógrafo e a utilização dos recursos repassados pelo governo federal. O mandato ainda é de vocês”.

Rosalina Isoton apresentou um relatório de uma visita feita por várias entidades ao HMM, local onde está instalado o único mamógrafo, além de Crismu e Secretaria Municipal de Saúde.

Nessa visita de fiscalização, encontraram as mesmas necessidades encontradas anteriormente. “No Crismu não havia internet e o mamógrafo existente continua encaixotado. Na SMS não encontramos um cenário diferente, com dados sem serem atualizados, e uma nova coordenação que assumiu há dois meses. A saúde da mulher é precária há alguns anos e piora cada vez mais. Mulheres que buscam atendimento fora e não temos nem de perto um atendimento como em Parauapebas”, colocou Rosalina.

A vereadora Antônia Carvalho disse que, lamentavelmente, não há o que comemorar no Outubro Rosa 2016. “Não houve avanços, mas retrocessos, além de denúncias sobre o descaso. Não visto carapuça em relação à omissão, mas a gente sabe como as coisas funcionam e como o Parlamento atua”.

Toinha disse que fica triste quando há pessoas que são mestres para gritar, mas na hora de tomar decisões são omissas. Parabenizou os grupos que estão lutando pela garantia de direitos. “Tive depressão e fiquei desesperançada com muitas coisas. Para sair não foi fácil, porque as coisas neste mundo são colocadas de forma muito duras”.

A vereadora Vanda Américo disse que ela e a colega Júlia Rosa já atuavam em relação aos cuidados com o câncer mesmo antes de existir a campanha Outubro Rosa em Marabá. “A Câmara nunca se omitiu nesse processo”, enfatizou Vanda. Lamentou que a reforma do Crismu não tenha sido concluída, mas garantiu que não foi por falta de cobrança do Legislativo, assim como o mamógrafo guardado. “Nunca nos calamos, trouxemos secretários de Estado para discutir a realidade da população local para melhorar o atendimento de oncologia”, sustentou.

O vereador Guido Mutran disse que o que as mulheres passam, ao buscar um tratamento no Hospital Ophir Loyola, em Belém, é quase humilhante. Disse que o Movimento Esperança é também de ajudar, de uma palavra de carinho. Destacou que a luta contra o câncer é uma batalha para se vencer. “Temos que lutar para que o mamógrafo funcione e para que seja feito um convênio para o tratamento do câncer de mama. Temos essas duas metas prioritárias”. Disse ainda que compactua com um pedido feito pela colega Vanda para que seja formada uma comissão para sentar com o Governador com uma pauta contendo essas duas metas, no mínimo.

Ubirajara Sompré reconheceu que é uma humilhação para se conseguir o tratamento no Ophir Loyola. Por isso, pede a descentralização do atendimento porque as pessoas pedem dinheiro para ir fazer o tratamento fora de Marabá. 

Alecio Stringari ponderou que parece que a Câmara só trata de doença terminal. “Não tenho tirado tempo para minha família e vida pessoal,  me dedicando ao meu mandato”. Disse que a Casa não tem se curvado a nada, e foram realizadas várias reuniões e ações para beneficiar a população.

Ilker Moraes lamentou que nos últimos três governos em Marabá secretários   tenham sido afastados e presos. Disse não imaginar trabalhar a saúde pública sem controle de estoque. “Foram feitas várias denúncias no mandato e em Marabá não há um diagnóstico da saúde e nem controle de estoque”.

Irismar Melo, que presidiu a sessão, agradeceu a presença de todos e disse que a princípio todas estavam muito desestimuladas para participar da sessão, por não verem nada avançando. “Não há um ginecologista nos centros de saúde e existe uma série de coisas que dificultam o combate a esses problemas. Outros municípios tratam câncer e por que Marabá não pode fazer o mesmo?”, questionou. 

Ao final, a vereadora Vanda Américo pediu que fosse elaborado um documento para solicitar uma audiência com o governador Simão Jatene, junto com os deputados estaduais Tião Miranda e João Chamon para viabilizar um contrato com a clínica do médico Rodolfo Amoury, que de acordo com ela é viável.