Comissão da Mulher reúne vários segmentos para discutir dilemas nos serviços de saúde ao público feminino

por André da Silva Figueiredo publicado 03/06/2019 16h13, última modificação 03/06/2019 16h13
Conduzida pela vereadora Priscila Veloso, reunião colocou na mesma sala juiz, secretário de saúde e líderes comunitários

Na tarde de quarta-feira, 29 de maio de 2019, a Comissão da Mulher da Câmara Municipal de Marabá realizou reunião na Sala das Comissões com o objetivo de instituir o Dia da Luta pela Saúde da Mulher em Marabá e debater os problemas e entraves para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à mulher.

O evento contou com a participação de alunos de medicina da UEPA, secretário de Saúde de Marabá, Luciano Dias, diretora do 11° Centro Regional de Saúde, Etiene Santos, juiz da 3ª Vara Criminal de Marabá, representantes de várias instituições e vereadores.

A presidente da Comissão da Mulher, Priscila Veloso, disse que diversos segmentos foram convidados e que o grupo de proteção à mulher mostrou sua força pela representatividade da reunião. “Temos como objetivo buscar instituir em Marabá o Dia da Luta pela Saúde da Mulher. A saúde é a grande demanda que os vereadores recebem e com as mulheres não é diferente”.

Militante atuante nas lutas em defesa da mulher, Rosalina Izoton disse que é importante a discussão da implantação do Dia da Saúde da Mulher, porque este é um dos eixos principais de debate do segmento, assim como a violência contra a mulher. Rosalina falou da necessidade de melhorar a oferta de exames de mamografia no município e lembrou que durante a Campanha do Outubro Rosa é intensificado o atendimento às mulheres, e que deveria ser assim por um período maior. “Nesse período é melhor para o nosso atendimento, mas depois complica. O que agrava mais o problema da saúde das mulheres são os exames. No caso de câncer também. Além da saúde a autoestima é um dos pilares para o bem estar”, sustentou ela.

Maria Antônia, da Casa de Apoio Vida Melhor (ACAVIM), expressou ser uma data de extrema importante o Dia da Saúde da Mulher, mas que isso é um direito de todos os dias. “O problema da população e das mulheres é a prevenção. Se programar palestras incentivadoras, para que a mulher possa discutir seus problemas de ordem psicológica, por exemplo, é muito bom”.

Adriano Rodrigues, acadêmico da medicina, disse que um dos problema da saúde é que a medicina mudou de curativo para preventivo e a população não se conscientizou. “As pessoas procuram quando tem campanha orientando os pacientes para eles verem que precisam ter acompanhamento constante. O SUS funciona, mas está sobrecarregado. Atraso de exames ou consultas demoradas. Os gestores têm de fazer malabarismos para dar conta. A UEPA está aqui para ajudar a comunidade”, enfatizou Adriano.

Monalisa Miranda, presidente do Conselho de Saúde, destacou que esse tipo evento que fala da saúde da mulher é importante e fortalece o movimento. “Falar da saúde da mulher é um momento macro, e era preciso termos ainda mais companheiras nessa reunião”.

Miranda lembrou que o carro chefe da saúde da mulher é a atenção básica. “Temos buscado a saúde da mulher com garantia de direitos. A rede pública funciona, temos muitas coisas boas. Queríamos ver a ultrassom morfológica na rede pública para avaliar o real estado de um bebê. Temos de discutir o câncer de útero e o de mama. A saúde da mulher é um leque muito grande. Precisamos avançar em diversas questões. O sistema está demorando a entregar o resultado de exames de mamografia. As mulheres estão pedindo socorro e só nós podemos fazer algo”, declarou Monalisa.

Etiene Santos, diretora do 11° Centro Regional de Saúde, reconheceu que todos os pontos abordados na reunião  são pertinentes e tratados pela Sespa com prioridade. Ela afirmou que embora trabalhe com pouco recurso, é preciso cada um fazer a sua parte para avançar.  “Precisamos de maior conscientização dos usuários sobre as funções dos órgãos de saúde. O usuário só vai no momento da doença e não na prevenção dela. Hoje trabalhamos para cumprir metas na Sespa”.

Luciano Dias, secretário municipal de Saúde, reiterou que tudo que foi dito revela o tamanho do desafio que é a saúde, não só na questão da saúde da mulher, mas de uma forma geral. Ele salientou que o SUS sofre com o Brasil fraco economicamente, que cada vez recebe mais pessoas, que deixam de usar os serviços de saúde privado. “A qualidade do serviço é incontestável. Mas o custo é altíssimo. Os municípios respondem pela maior parte dos problemas da saúde das pessoas”.

Dias revelou que Marabá recebe hoje do SUS cerca de 30% do custo total do que é gasto com saúde no município. “Marabá gastou 35% no ano passado de tudo que se arrecadou no município com saúde. Não há negligência do Estado, do Município ou da Federação. Gastamos algo em torno de R$ 16 milhões por mês. A demanda é maior que o recurso”, explicou o secretário.

Luciano lembrou a situação de atendimento dos hospitais de Marabá, os quais atendem 23 municípios da região e observou que, no caso do Materno Infantil, realiza um bom trabalho. “Às vezes não conseguimos salvar vidas, mas ninguém pergunta sua origem e como o paciente chegou. Precisamos da participação da família em todo o processo”, conclamou.

Sobre o mamógrafo, o secretário informou que tem apenas um profissional para operar e realizar os laudos, e que está atrás de contratar mão de obra. “Estamos trabalhando insistente e constantemente com uma rede de saúde, temos quase 3 mil profissionais na SMS prestando atendimento 24 horas”.

O vereador Morivaldo Marçal destacou que a zona rural tem sido muito esquecida pelos atendimentos da área de saúde. Ele perguntou por que o PSF está cortado para a zona rural e a distribuição de remédios para os postinhos diminuiu 50%. “Precisamos de uma ação especial no Brejo do Meio e em toda a zona rural”.

O vereador Cabo Rodrigo contou que fez uma experiência no mês de abril, acompanhando o local de origem de alguns pacientes que adentraram ao Hospital Municipal de Marabá, e detectou 47 atendimentos vindo de Parauapebas. “Temos de pensar o quanto nossos hospitais recebem pacientes de 23 municípios e torna uma dificuldade gigantesca para o atendimento. A saúde é uma conta que não fecha”, opinou.

Cabo Rodrigo também sugeriu que a SMS realize um trabalho a longo prazo com informação e conscientização aos usuários e cidadãos de uma forma geral. “A Secretaria deve começar a pensar na prevenção dos jovens também, em conversar com esse público”.

A vereadora Priscila Veloso disse ser preciso sair com alguns esclarecimentos da reunião. Sobre os exames, ela questionou por que há demora de entrega das mamografias e o que fazer para melhorar o atendimento nessa área. Questionou sobre os exames de PCCU (Prevenção do Câncer do Colo do Útero), revelando ter recebido denúncia de não estar funcionando, indagando qual o prazo de entregar de um resultado, em média.

Priscila ainda pediu esclarecimentos sobre o funcionamento do laboratório de análises clínicas do município disse que a implantação de uma Agência Transfusional dentro do HMI otimizará os procedimentos que envolvam a necessidade de sangue.

Luciano Dias falou que as reivindicações dos vereadores são todas pautas importantes. Ponderou, todavia, que preciso ter médicos que aceitem trabalhar 40 horas para atender no PSF, e em razão disso nem todas as equipes estão funcionando, porque os profissionais não veem atratividade em cumprir às 40 horas.

Sobre a diminuição de remédios nos centros de saúde, o secretário disse desconhecer que seja algo da Secretaria ou falta de medicamento. “O pedido deve vir dos gerentes dos postos, das unidades de saúde, e que deve existir um efetivo controle de medicamentos dispensados nas unidades de saúde”.

Sobre as ações de saúde na zona rural, o secretário informou que estão todas marcadas e serão realizadas.

Respondendo ao vereador Cabo Rodrigo, Luciano disse que o acompanhamento integral do paciente é o ideal. Destacou que o Programa Saúde na Escola (PSE) prepara a criança e o adolescente para os problemas de saúde da vida adulta.

Para Priscila Veloso, Luciano falou que vai procurar no mercado outro profissional para a mamografia, reconhecendo ser essa uma demanda urgente.

Informou que o PCCU leva em média 30 dias para ser entregue para o usuário. Na questão dos laboratórios, disse que já estão na terceira licitação para equipamentos de laboratórios e nenhuma empresa se habilita. “A demora na confecção dos nossos exames aumentou, porque coleta o material, leva ao laboratório e depois devolve ao hospital. Antes, esse serviço estava disponível dentro do hospital. Mas por falta de empresa que se habilite para participar da licitação para aquisição de equipamentos de laboratórios, estamos tendo esse problema”.

Com relação ao tomógrafo, o secretário disse não ser verdade que a Prefeitura tenha se negado a receber a emenda parlamentar para aquisição. “Não é preciso que o município dê o aceite agora. Temos urgências maiores que esse equipamento. O tomógrafo entra na mesma narrativa dos equipamentos do laboratório. Temos atendimento do tomógrafo terceirizado”.

Júlia Rosa, coordenadora da Coordenadoria Municipal da Mulher, disse que é preciso voltar a fortalecer a rede de atenção básica e primária, para diminuir o índice de mortalidade materna e infantil. Ela sugeriu que a Seasp desenvolva nesse momento o plano municipal de políticas públicas para a mulher e pediu a ampliação da cobertura do PSE, que só atende 75% das escolas”.

O juiz Alexandre Arakaki, da 3ª Vara Criminal, que cuida dos casos de violência contra a mulher, frisou que recebe em média 10 pedidos de socorro de mulher por semana, as quais solicitam medidas protetivas. “Muitas vezes a vida dela não segue. Muitas vezes o parceiro não permite que a mulher realize alguns exames ou procure um médico ou tenha uma vida social normal”.

 Ele avalia que a união entre as entidades que promovem a saúde da mulher é fundamental. “Temos de enfrentar os problemas das mulheres vítimas de violência. Precisamos de um forte enfrentamento e fortalecimento da rede de proteção das mulheres em Marabá”.