Comissão de Desenvolvimento exige clareza sobre acessos e efeitos sociais da nova ponte rodoferroviária
Como transformar uma grande obra de infraestrutura em desenvolvimento real para a população de Marabá? Foi com essa pergunta em mente que a Comissão Especial de Desenvolvimento Socioeconômico da Câmara Municipal reuniu, na tarde desta quarta-feira (3), vereadores, representantes da Vale e membros do Poder Executivo para uma reunião de trabalho marcada por cobranças, números e muitas expectativas em torno da nova ponte sobre o Rio Tocantins.
O encontro aconteceu na Sala de Comissões da Câmara e teve como foco principal o cronograma da construção da nova ponte, as contrapartidas da mineradora Vale em favor do município e os impactos que essa intervenção já provoca – e ainda provocará – na vida dos marabaenses, tanto do ponto de vista econômico quanto social e de mobilidade urbana.
A reunião foi conduzida pela presidente da Comissão, vereadora Vanda Américo (União), que dividiu a mesa com os parlamentares Maiana Stringari (PDT), Jocenilson Silva (PRD), Marcelo Alves (PT), Marcos Andrade (PSD), Ubirajara Sompré (MDB) e Pastor Ronisteu (PL). Também participaram a presidente da Associação Comercial de Marabá, Nilva Olive; o secretário municipal de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia (Sicom), Eugênio Vale; à analista de Relações Institucionais, Synara Amaral; além de outros integrantes do corpo diretivo da empresa e assessores técnicos.
*Obras avançam 67%*
Um dos pontos centrais da reunião foi a apresentação feita por Uziel Junior, gerente de Planejamento da obra da nova ponte no Rio Tocantins. Ele detalhou o estágio atual da construção e mostrou, por meio de dados atualizados, a dimensão do empreendimento na economia local.
Segundo Uziel, as obras foram iniciadas no segundo semestre de 2022 e a previsão de conclusão é 2027. Hoje, a estrutura já alcança 67% de avanço físico, o que indica que a fase mais pesada de engenharia está em plena execução.
Ele também destacou o impacto direto na geração de trabalho e renda. De acordo com o gerente, o Consórcio Rio Tocantins, responsável pela obra, mantém atualmente uma “massa de trabalho” de cerca de 2.500 funcionários envolvidos nas diversas frentes. No eixo econômico, outro dado chamou a atenção: cerca de 540 fornecedores atendem às demandas da obra, sendo a maior parte deles empresas sediadas em Marabá.
“O consórcio já pagou R$ 227 milhões aos fornecedores locais no acumulado até outubro deste ano. No mesmo período, investiu R$ 247 milhões com massa salarial e R$ 62 milhões com ISS (Imposto Sobre Serviços). Esses números mostram o quanto a construção da nova ponte tem gerado impacto positivo no dia a dia do cidadão marabaense”, analisou Uziel.
Ao todo, segundo informou a Vale, atualmente há 3.300 funcionários contratados para a obra, sendo 2.500 locais.
*Câmara cobra transparência e diálogo*
Apesar do reconhecimento à importância da obra e dos números positivos, o tom da reunião foi de cobrança por mais transparência e diálogo com a sociedade. A presidente da comissão, vereadora Vanda Américo, enfatizou que a população tem buscado informações e que a Câmara precisa estar munida de dados concretos para responder a essas demandas.
“O objetivo dessa reunião é tratar com a Vale sobre como anda, de fato, o cronograma da nova ponte sobre o Rio Tocantins. Como legítimos representantes da população, temos o direito – e o dever – de conhecer em profundidade os detalhes da obra, para que possamos repassar à sociedade informações corretas, claras e responsáveis”, afirmou Vanda.
Ela reforçou que, embora o projeto seja visto com entusiasmo, há um sentimento de distância entre o canteiro de obras e a realidade de quem acompanha tudo “do lado de fora”.
“As pessoas nos param na rua, nos enviam mensagens, perguntam sobre prazos, acessos, impactos. Não podemos continuar trabalhando apenas com informações fragmentadas. É preciso que a Vale seja transparente e mantenha um canal de diálogo constante com este Parlamento e com a população”, cobrou.
*Acessos à ponte preocupam*
O vereador Marcos Andrade trouxe à tona uma preocupação que também vem ecoando entre os moradores: os acessos à nova ponte. Para ele, não basta erguer uma grande estrutura se as vias de ligação com o restante da malha urbana não forem planejadas para suportar um fluxo intenso de veículos.
“É impossível não se impressionar com a grandiosidade da obra. A ponte é imponente, bonita e vai mudar a logística de quem transita por ali todos os dias. Mas há uma inquietação muito forte em relação aos acessos, especialmente nas cabeceiras. Até agora, pouco se falou sobre como será essa ligação com as demais vias, e isso gera insegurança na população e neste Parlamento”, apontou.
Marcos defendeu que os projetos dos acessos sejam apresentados de forma mais detalhada, com simulações de fluxo viário e previsão de intervenções complementares.
“Precisamos de clareza. A ponte não pode virar um gargalo porque as vias de chegada e saída foram mal planejadas ou improvisadas depois”, alertou.
*Risco de congestionamentos*
Com experiência profissional como agente de trânsito, o vereador Jocenilson Silva foi categórico ao afirmar que, se nada for feito nas vias do entorno, a cidade corre o risco de enfrentar congestionamentos constantes após a inauguração da nova ponte.
“Quando essa obra for entregue, o fluxo de veículos naquela região vai aumentar significativamente. A ponte atual tende a ficar obsoleta diante da nova estrutura e da redistribuição do tráfego. Porém, o que percebemos é que as ruas e avenidas do entorno parecem não estar recebendo o planejamento adequado para essa mudança”, avaliou.
Jocenilson defendeu uma revitalização completa das vias ao redor da ponte, com alargamento de faixas, implantação de rotatórias, sinalização adequada e, se necessário, criação de novas alternativas de acesso.
“Esses detalhes precisam ser revistos com urgência, seja pela própria Vale, seja pelo Poder Público. É melhor planejar agora do que remediar depois com a população presa em engarrafamentos diários”, reforçou.
Outro ponto sensível levantado durante a reunião diz respeito às comunidades que vivem no entorno do canteiro de obras. O vereador Ubirajara Sompré chamou atenção para a necessidade de a empresa olhar com mais cuidado para essas famílias, que convivem diariamente com os impactos diretos da construção.
“A grandeza da obra é inquestionável. A engenharia é de alto nível, a estética da ponte impressiona. Mas nem tudo são flores. Existem comunidades carentes bem ao lado do empreendimento, pessoas que deveriam estar sendo diretamente beneficiadas pelas políticas de contrapartida da empresa. No entanto, não é isso que temos visto na prática”, criticou.
Ubirajara defendeu que parte dos investimentos e das ações da Vale seja canalizada para melhorias nas condições de vida dessas comunidades, com programas sociais, infraestrutura básica, capacitação profissional e outras iniciativas.
“Quando a obra acabar, o concreto e o aço vão ficar. Mas é fundamental que algo de bom também permaneça na vida dessas pessoas. Elas não podem ser apenas espectadoras de longe”, completou.
*E depois da obra?*
O olhar para o futuro também apareceu nas falas dos parlamentares. O vereador Marcelo Alves levantou uma preocupação relacionada à realocação dos trabalhadores após o término das obras.
“Hoje, temos milhares de pessoas empregadas direta e indiretamente na construção dessa ponte. Mas o que acontecerá com essa mão de obra quando a obra for concluída? Como ficam essas famílias? De que forma podemos contribuir para que essas pessoas não fiquem desamparadas?”, questionou.
Marcelo ressaltou que, ao mesmo tempo em que a obra gera um ciclo virtuoso de empregos, ela também carrega o risco de um “vácuo” social ao final.
“Esses questionamentos são pertinentes e precisam estar na mesa desde já. Precisamos discutir planos de transição, programas de requalificação profissional e oportunidades para absorver esses trabalhadores em outras atividades. Não podemos olhar apenas para o hoje”, reforçou.
*Manter o diálogo aberto*
Ao final da reunião, a direção da Vale se comprometeu a encaminhar informações complementares sobre o cronograma, os acessos e as ações de responsabilidade social, além de manter um canal permanente de diálogo com a Câmara Municipal.
A Comissão Especial de Desenvolvimento Socioeconômico, por sua vez, reafirmou que continuará acompanhando de perto a execução da obra, cobrando transparência, planejamento e contrapartidas que assegurem que a nova ponte sobre o Rio Tocantins não seja apenas um marco de engenharia, mas um instrumento de transformação concreta na vida da população de Marabá.