Guerra contra o câncer de mama ganha audiência pública na Câmara Municipal
Propositora da reunião, Júlia Rosa, presidente da Câmara Municipal de Marabá, explicou que a audiência tem como objetivo levar a população à prevenção e medidas terapêuticas sobre o câncer de mama, realizada nesse momento, em alusão ao movimento mundial intitulado “Outubro Rosa”, uma campanha de conscientização realizada no mês de outubro, dirigida à sociedade e as mulheres sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.
Júlia enfatizou que desde o dia 1º de outubro a Câmara, como um todo, tem abraçado a causa e tem se mobilizado nessa questão.
Para ela, essa é a função inerente ao o vereador: de propor e lutar sobre questões relevantes para a população. “Nós sabemos as condições em que a atual gestão recebeu esse município. Mas a doença não espera, principalmente o câncer. Temos de ter uma política pública voltada para a saúde da mulher, conhecemos as dificuldades da Secretaria Municipal de Saúde. Às vezes, nossos cidadãos ficam mofando esperando um vaga de TFD (Tratamento Fora de Domicílio) no Ophir Loyola. Essa luta da CMM não tem cor partidária, é pela vida. Homem também tem peito, e câncer de mama também vitima o homem. Temos acompanhado o esforço para resolver alguns problemas, mas esse tem que ter uma visão diferenciada”, analisa a presidente.
Júlia cobrou ainda, uma solução para o problema que há tempos complica o atendimento e a prevenção contra o câncer no município, o conserto do único mamógrafo ou a aquisição de um novo. “A mamografia, em uma fase do diagnóstico da doença, é essencial. Temos de lutar no nosso Estado, para que o Pará possa cumprir o que determina a lei, que diz que a mulher tem direito à reconstituição da mama no momento da retirada. Nós queremos ter essa certeza, de que essa não é apenas uma reunião, mas sim uma audiência pública de saúde da mulher”.
A presidente propôs a formulação de uma pauta composta por sugestões da sociedade civil organizada, entidades e políticos que estavam presentes ao evento. “Sabemos que com a junção de esforços coletivos, principalmente entre município e Estado, daremos celeridade na questão do encaminhamento e diagnóstico de câncer de colo de útero e o de mama”.
Ela cobrou a criação de um centro de referência à Saúde da Mulher na Cidade Nova; Para a Secretaria de Saúde do município, pediu seminário e audiência com o Estado para melhorar os pacientes no tratamento e diagnóstico precoce; que o município estabeleça os exames de rotina, como mamografia e ultrassonografia; que haja mais ginecologistas para o atendimento; políticas para que a mulher prioridade em atendimento; e, por fim, solicitou que as funcionárias que trabalham nos centros de referência à saúde da mulher tenham direito à gratificação prevista em lei.
Abiancy Cardoso Rosa Salame, secretária municipal de Assistência Social de Marabá e presidente do Conselho da Mulher, parabenizou a atitude da Casa em realizar a audiência pública. “Essa é uma luta da qual somamos força porque diz respeito a todas as mulheres. Tenho a convicção de que a sociedade de Marabá sairá mais consciente para avançarmos no combate ao câncer de mama”.
Bia, como também é conhecida, lembrou que o conselho é fruto de uma luta que permite às mulheres estarem organizadas para fazer e cobrar políticas públicas. Ela lembrou que o IBGE aponta que 48,5% da população do município é feminina, e desde 2010, os indicadores de saúde estão sendo comprometidos porque os serviços essenciais foram retirados da rede municipal.
A secretária disse não entender por que o único mamógrafo de Marabá, que deveria atender 22 municípios da região, não está funcionando.
Nagib Mutran Neto, secretário municipal de Saúde, disse que a SMS está se esforçando, mas o mamógrafo é antigo e deu problema em sua processadora. “Foi adquirido material para restaurá-lo, filme e revelador, mas não resolveu o problema”, afirmou o secretário.
Nagib ainda disse que um novo mamógrafo está em fase de licitação, mas como o valor passou de R$ 1 milhão, a compra está sendo avaliada pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) que financiará a aquisição. Esse novo equipamento tem condições de ser instalado no Crismu para atender a população feminina de Marabá e região. “Estamos tentando também, uma parceria com o Hgumba (Hospital da Guarnição de Marabá), porque o mamógrafo deles está subutilizado. Tentamos uma parceria para que ele possa substituir o do município até que este volte a funcionar”, explicou Nagib.
Além disso, o secretário explicou que a deputada estadual Bernadete ten Caten (PT), está colocando uma emenda parlamentar no valor de R$ 400 mil para aquisição de um mamógrafo para o município de Marabá. “A gente fica até constrangido, porque sabemos da importância de um exame de mamografia para que se detecte câncer logo no início”, justificou.
Vilma Lemos, representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Mulher, disse que a mulher tem pleno direito e dever para cobrar o que está garantido por lei. Ela também lamenta que há três anos o mamógrafo do município não funcione e disse que há dez anos tirou nódulo do seio e todos os anos faz exames e duas vezes ao ano vai ao médico. Vilma pediu ao Ministério Público que aja de forma mais firme na cobrança do setor público para oferecer os serviços de saúde garantidos por lei.
A deputada Bernadete ten Caten afirmou ser uma contradição, Marabá está há três anos sem mamógrafo e sem estar atendendo as mulheres nesse sentidoe sugeriu que até o final do Outubro Rosa seja solucionado o problema do mamógrafo, mesmo que seja inicialmente em parceria com o Exército. “É necessário prepararmos um documento de Marabá, para o Ministério da Saúde, para garantir a inexigibilidade para aquisição de um mamógrafo urgentemente, dada a situação caótica de casos de câncer em Marabá e região” vociferou a deputada.
Bernadete informou que a Assembleia Legislativa quer fazer uma emenda coletiva, e sugeriu que se faça um pedido para compra de mamógrafos para vários municípios do Estado. “Não há como Marabá atender todas as mulheres. Cada município deve ter seu mamógrafo para cuidar de suas mulheres”, sugeriu a parlamentar, citando a necessidade de atendimento psicológico e psiquiátrico gratuito para as mulheres que estiverem com câncer.
A vereadora Antônia Carvalho (PT) se mostrou contente com o conjunto de movimentos sociais fazendo defesa de uma política pública e elogiou a presidente Júlia Rosa, que trouxe debate para dentro da Câmara a discussão para fortalecer as políticas sociais em defesa dos direitos da mulher. “Essa luta é de todos, não é partidária”, enfatizou.
A vereadora Vanda Américo (PSD) lembrou que sua irmã, enfermeira “Zezinha”, morreu com câncer de colo do útero que poderia ter sido resolvido. “Não fizeram primeiros tratamentos corretos e ela veio a falecer”.
Vanda Reconheceu que a Comissão de Saúde da Câmara é atuante e cobrou o secretário de Saúde porque entende que há muitas demandas que precisam ser resolvidas. “É preciso unificar os movimentos e atuar para auxiliar as pessoas que estão fazendo tratamento de câncer em Belém. Esse movimento bonito das mulheres deve se unir para que os leitos do Hospital Santa Terezinha sejam liberados para cirurgias eletivas”.
Por sua vez, a vereadora Irismar Araújo (PR) lembrou que o Crismu já funcionou bem e elogiou que agora esteja sendo ampliado. “Falar de conscientização sem ter retaguarda, não vai chegar a nenhum lugar. É preciso mobilizar o poder público, mas também empresas e entidades para ajudarem no combate à doença”.
Ultimato
Ao usar da palavra na audiência pública, ao final do evento, a promotora Mayanna Souza Queiroz, que cuida da saúde, reconheceu que o município passou por diversos problemas na gestão anterior, mas lembrou que em relação à questão do câncer, o SUS tem obrigação de prestar gratuitamente o atendimento e que é obrigação do Estado garantir esses direitos. “No entanto, não vemos ser aplicada a letra da lei. Precisamos de postura política para fazer cumprir. Estamos há dez meses nesta gestão e não podemos mais aceitar desculpas sobre a gestão anterior. É preciso garantir que a lei seja aplicada”, cobrou a promotora.
Ela determinou que seja garantida a continuação da campanha Outubro Rosa até o final do ano, e que se resolva o problema do mamógrafo. “Se não cumprir, vou entrar com ação judicial. Chega de falar e não agir. Como em um município desse tamanho não se consegue resolver um problema único. A gente tenta sempre a via administrativa, através de negociação. Se não der certo, vamos nos enfrentar judicialmente”, avisou.
Sobre as cirurgias eletivas, a promotora disse que já chegam a 4 mil mulheres na fila de espera e o problema ainda não foi resolvido. “Se há problema, secretário Nagib Mutran, então assuma as rédeas de sua secretaria e determine um local para fazer as cirurgias, senão vamos guerrear judicialmente. Não vamos permitir que direitos das mulheres sejam vilipendiados dessa maneira”.
Diante da pressão, o secretário de saúde disse que está somando todos os esforços para resolver o problema do mamógrafo e também das cirurgias eletivas, para que elas sejam realizadas no Hospital Santa Terezinha. “Nós precisaríamos mais 900 leitos para atender a demanda que temos, e não chegamos a 300 neste momento”, lamentou.
O médico Rodolfo Amoury, único oncologista e mastologista de Marabá, também contribuiu com a audiência pública e ministrou uma palestra para os presentes sobre como se prevenir contra o câncer de mama e o do colo do útero. Ele advertiu que em oncologia, não existem milagre com cura por chá. “Vejo que pessoas deixam de se tratar por causa de garrafadas e coisas do tipo, como se houvesse fórmulas mágicas. A fé ajuda o paciente, mas não substitui a medicina. Sempre procure um profissional que entenda do assunto”, ressalvou.
A mesa que dirigiu os trabalhos foi composta por Júlia Rosa, presidente da Câmara; Sargento Rosana Dias, representando 4º B; Cátia Rodrigues, União Brasileira da Mulher; Wilma Lemos, OAB Mulher; Nagib Mutran, secretário de Saúde; Mayanna Queiroz, promotora de Justiça; Rodolfo Campos Amoury, médico; Domingas Ramos, presidente da Associação da Mulher do Bairro Alzira Mutran; e Bernadete ten Caten, deputada estadual.