Marco Memorial de Emancipação do Estado de Carajás tem Sessão Solene na Câmara
Mais de 300 pessoas participaram da Sessão Solene do Marco Memorial de Emancipação do Estado de Carajás, realizada pelo segundo ano consecutivo pela Câmara Municipal de Marabá. O evento ocorreu na manhã desta terça-feira, 9, e contou com a participação do vice-governador eleito, Zequinha Marinho, do vice-prefeito Luiz Carlos Pies, do deputado federal Giovanni Queiroz, Wandenkolk Gonçalves, deputado eleito Beto Salame, do ex-deputado Asdrubal Bentes, entre outras autoridades.
A presidente da Câmara, Julia Rosa, explicou que o estabelecimento da sessão anual foi motivado pela necessidade de manter viva a memória da luta de mais de três décadas pela emancipação desta região, além de incutir nas novas gerações a importância de manter essa chama viva. “Trata-se de um projeto apresentado e assinado por todos os vereadores desta Casa e vamos mantê-lo na história deste legislativo”, observa a presidente.
Na abertura da sessão, além do Hino Nacional Brasileiro, os presentes cantaram o hino que embalou a campanha do Plebiscito do Carajás e Tapajós. Júlia Rosa rememorou a realização do seminário que congregou presidentes de Câmaras Municipais da região em 1989, além de um congresso que reuniu mais de 200 vereadores do sul e sudeste do Pará. “Esse clamor repercutiu no Congresso Nacional através de um decreto legislativo apresentado inicialmente pelo deputado Asdrubal Bentes e depois por seu colega Giovanni Queiroz”, relembrou Júlia Rosa.
Ao usar da palavra, Asdrubal Bentes recordou que foi surpreendido em 1989 com a ideia de emancipação que nasceu da reunião de vereadores em Marabá, recordando a Carta Sul do Pará escrita por representantes de 22 municípios. “Nossa luta continua hoje, porque os recursos do Estado se concentram na região metropolitana de Belém. O Orçamento do governo para a região em 2015 é um massacre e uma retaliação pelo resultado das eleições”, desabafou Asdrubal.
Wandenkolk Gonçalves avalia que o Marco Memorial de Carajás dá garantia de que o sonho não acabou. “Devemos aproveitar o momento para fazer reflexões. Emancipar é transformar um distrito em município e uma região em estado. Mas considero emancipar diminuir o sofrimento de nossa gente. Saímos de um embate eleitoral e vamos entrar num embate municipal. Aqui em nossa região, só temos uma saída: nos unirmos para continuarmos fortes”, disse Wandenkolk.
Para ele, a saída para criar o Estado de Carajás será apostar em um projeto que tramita na Câmara Federal que prevê a redivisão territorial do Brasil. “Há 17 projetos de criação de novos estados e é preciso aproveitar o momento para que eles sejam aprovados em bloco. Podemos colocar o Brasil todo para votar. É preciso criar uma comissão composta por 18 membros da Câmara e Senado e seis da sociedade civil, analisar as viabilidades dos projetos de uma forma global”, alertou.
O deputado sugeriu também que os municípios desta região cobrem do Governo do Estado a devolução de pelo menos 30% do valor arrecadado com a taxa minerária, que atualmente corresponde a cerca de R$ 1 bilhão. “A Câmara de Marabá continuará sendo o fórum legítimo para discussão dos grandes temas que interessam esta região”, observou Wandinho.
O deputado Giovanni Queiroz agradeceu a comenda oferecida pela Câmara e disse que, apesar de estar saindo do cenário político momentaneamente, continuará sua batalha em favor de Carajás e criticou o envolvimento do governador Simão Jatene na campanha de emancipação. “A campanha que fizeram em Belém foi vergonhosa, como se quiséssemos saquear o Estado. Não estamos inventando a roda, mas copiando modelos exitosos deste País, como o do Mato Grosso e ainda o nosso vizinho Tocantins, que se tornou um Estado promissor. Atualmente, apresento um projeto de emenda constitucional, que diz que para criação do Estado, é preciso consultar a população diretamente interessada, e que ela seja a emancipanda”, ponderou.
Zequinha Marinho reconheceu que é preciso emancipar para gerenciar melhor os recursos da região. “No plebiscito, a luta foi desigual. A Comissão organizadora da Campanha do Sim jogou baixo. O fato de hoje eu estar no governo não significa guardar ou esconder a bandeira do Carajás ou Tapajós. Entre o possível e o ideal, sempre há um abismo, por isso precisamos continuar trabalhando para melhorar a qualidade de vida de nossa gente. Vamos continuar lutando e batalhando”, disse.
O vereador Leodato Marques disse que, ao contrário do que muitos pregam, a criação dos estados de Carajás e Tapajós não é coisa de um grupinho político, mas do povo. Ele pediu para que não se esqueça de algumas lutas, além do Carajás. “Precisamos verticalizar nossa produção. Vamos também trabalhar pela hidrovia, em favor da hidrelétrica com eclusas, pela Alpa e por uma segunda ponte sobre o Rio Tocantins, mas com passagem rodoviária também, não apenas ferroviária.
O vereador Miguel Gomes Filho recordou a luta que encampou como presidente da Câmara em 1989 juntamente com outros colegas vereadores em Marabá. Recordou que promoveu reunião em Marabá com a presença de 22 presidentes de câmaras municipais da região. À época, aproveitaram os estudos do professor José Brandão sobre a viabilização da emancipação. “Dos 210 vereadores desta região, 183 deles participaram de um encontro em março, também em Marabá. Essa bandeira surgiu de um pedido para o artista Rildo Brasil e virou um símbolo de luta pelo Estado de Carajás”, explicou Miguel.
Ele agradeceu aos empresários Leonildo Rocha, José Francisco Diamantino e Gilberto Leite (falecidos), que se engajaram na luta e desprenderam recursos para apoiar o movimento em prol do Carajás”.
A vereadora Vanda Américo recordou que iniciou sua história política em janeiro de 1989 e já no inicio daquele ano ela e outros vereadores percorreram por toda a região. Saíram num dia e chegaram a Conceição do Araguaia sujos de lama. “Promovemos curso de formação de vereadores e naquele tempo e, passados quase 30 anos, precisamos estar cientes de que a divisão de Carajás e Tapajós precisa estar em mesa de discussão permanente. Precisamos avançar nesta questão”, disse a vereadora, observando que o Marco Memorial foi criado para que a região reconheça as pessoas que lutaram pela causa.
Para a presidente da Casa, Júlia Rosa, a região perdeu muito com a saída de Giovanni Queiroz e Asdrubal da Câmara Federal. “Ganhamos várias lutas, inclusive pela realização do plebiscito no Congresso”.
Ela parabenizou seus colegas vereadores que souberam lutar pela causa por mais de três décadas. Além disso, lamentou a divisão de riquezas pelas regiões do Estado do Pará e disse que a luta por um novo estado passa por essas necessidades. “A todo momento dessa luta, três grandes empresários de Marabá, entusiastas da criação do Estado de Carajás, foram grandes contribuintes para os avanços do projeto e estão sendo lembrados agora: Leonildo Rocha, Francisco Diamantino e Gilberto Leite”, disse Júlia.
Guido Mutran Júnior usou da palavra na tribuna para queixar-se de que muitas pessoas de Belém acham que moradores de Marabá e região são aventureiros, o que não é a realidade. “Não podemos aceitar que a divisão branca que está na cabeça de alguns seja colocada em prática. Pertencemos ao Estado do Pará. Temos o direito, a obrigação de agirmos de maneira apartidária, em defesa do povo desta região. Muito nos foi prometido, mas nada foi cumprido. Algumas promessas ficaram na memória e outras apenas nos sonhos. Não podemos nos digladiar entre nós. Precisamos nos unir para mostrarmos como filhos desta região. Não podemos aceitar desculpa de que no Orçamento do Estado se designe uma quantidade ínfima para Marabá e região. Não é moralidade, mas uma falta de respeito”, alfinetou Guido.
Os homenageados na sessão do Marco Regulatório de Carajás são Giovanni Queiroz, João Salame Neto, Asdrubal Bentes, Miguel Gomes Filho, Júlia Rosa, Comissão Brandão Pró-Emancipação do Estado de Carajás, Vanda Américo, Gilberto Leite, Italo Ipojucan, Leonildo Rocha, Leodato Marques, Guido Mutran Júnior, Maurino Magalhães, Nagib Mutran Neto, Sebastião Miranda Filho, Wandenkolk Gonçalves, José Francisco Diamantino, José da Cruz Marinho e Daniel Pereira de Sá.