Plano de ação com medidas no combate à leishmaniose deve ser apresentado à Câmara
Aconteceu na manhã desta segunda-feira, 29 de maio, às 10 horas, na Sala das Comissões da Câmara Municipal de Marabá, a reunião da Comissão de Administração, Serviços, Segurança Pública e Seguridade Social da Câmara Municipal de Marabá, com o intuito de debater sobre o grande crescimento dos casos de leishmaniose visceral canina na cidade. Pastor Ronisteu, membro da Comissão, foi o primeiro a usar da palavra e colocou da importância de se debater esse tema. Falou que grande parte dos principais atores que consolidam o combate da leishmaniose em Marabá está participando do evento.
Pedro Corrêa, presidente da Câmara, pediu que fosse franqueada a palavra à Deyse Araújo Mendes, moradora do bairro Itacaiúnas e que vem desenvolvendo um trabalho voltado ao combate da leishmaniose na cidade. Ela relatou ações voluntárias que iniciaram há um ano no combate a doença. Sugeriu que seja distribuída a coleira repelente com o cartão do SUS, já que o governo federal, segundo ela, pode ressarcir uma parte do custo do material ao Estado. “A coleira dura 4 meses e custa, a mais barata, R$ 80,00”.
Maria de Fátima Mutran, vice-presidente da ONG Focinhos Carentes, disse que a entidade tem a finalidade de resgate, tratar, castrar e doar animais. Atualmente, contam com 100 animais e que a maioria deles é pega com leishmaniose, porque foram abandonados pelos donos.
Nagilvan Amoury, coordenador do CCZ, disse que vem acompanhando desde 2000 as doenças caninas. Pediu para que a Câmara Municipal crie uma lei que limite o número de cães por residência. Também afirmou que repelente e outros produtos poderiam ser usados para evitar a contaminação. Ele também discorreu sobre vários trabalhos desenvolvidos pelo CCZ. “Em 2012 foram coletadas 164 amostradas e quatro reagentes para leishmaniose e em 2016 foram 4.801 amostras e 1.733 reagentes, representando 47% dos casos”, afirmou o coordenador.
Solange Freire, coordenadora de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, disse que está desde janeiro nesta área e ponderou que é o momento de todos se envolverem para combater a leishmaniose visceral em Marabá.
A coordenadora afirmou que desconhece que o SUS pague por coleira e alertou que a SMS não tem condições de doar este tipo de material. Ela ainda disse que será comprado um produto que ajuda a evitar a contaminação e que o fumacê não combate o mosquito palha de forma eficiente. Sobre a castração, disse que possui um projeto em debate, para que o centro cirúrgico do CCZ funcione, o que será de grande ajuda. “É preciso haver uma ação de educação para a população, que deve ser envolvida no combate”.
O secretário de Meio Ambiente, Válber Araújo sugeriu iniciar um trabalho por uma área específica, realizando um mutirão de ação de limpeza, lembrando que o mosquito precisa de criadouro.
Geraldo Pereira Barroso, diretor da Sespa em Marabá, disse que a estrutura tem de ser descentralizada e que Marabá tem apenas 29 agentes de endemias e que deveria ter, no mínimo, 90. Ele ainda observou que é preciso formular um plano urgente entre o município e o Estado. Segundo ele, houve um esquecimento e a cidade foi dominada pela juquira e lixão nos últimos anos.
O diretor da Sespa colocou que em 2017 já foram registrados 1.607 casos reagentes em cães diagnosticados pelo teste rápido de leishmaniose visceral. Em sua visão, não se pode deixar apenas para que a Secretaria Municipal de Saúde tome conta dessa situação, e que é preciso envolver Semed e Sema no caso. Garantiu que o governo do Estado e a Sespa estão à disposição.
Ana Raquel Santos Miranda, coordenadora da Vigilância em Saúde da Sespa, alertou que a questão é mais macro do que se imagina, e que essas doenças são predominantemente ambientais e que o ônus recai sobre a saúde, por conta da doença.
Ela falou que o vetor está no meio ambiente e que o fumacê é uma aspersão que se faz no meio ambiente de forma espacial, sendo uma fumaça que teria a função de matar o vetor, mas não possui a eficácia que se acha que tem. Lembrou que o fumacê vem sendo usado há muitos anos no Brasil e não tem tido o efeito desejado.
Segundo ela, a borrifação que se usa para leishmaniose é a residual, feita nas paredes das casas, devendo ser realizado o controle químico. Reconheceu que Marabá está toda infestada e que não é possível borrifar todas as casas. Por isso, advertiu, é preciso agir nas áreas mais afetadas pela doença, para se ter uma logística muito bem trabalhada. Também sustentou que é preciso ter uma equipe treinada, com EPI. “Se não retirar os criadouros, pode borrifar a vida inteira que não irá ter efeito”. Ana Raquel também disse que o trabalho tem que ser feito em conjunto e sincronizado.
A vereadora Priscila Veloso falou da importância da parceira entre as secretarias. Segundo ela, é preciso encontrar uma saída para a situação e lamentou que não haja uma ação conjunta. “É preciso sair da reunião com um encaminhamento”, pediu a vereadora.
Gílson Dias lembrou que acompanhou o trabalho da Sucam e que naquele período não havia o problema grande como se tem hoje, e que o Estado se omitiu no combate às endemias em Marabá. Falou que a Câmara está buscando alternativas para solucionar a questão. Gílson disse que o uso do fumacê é importante, assim como os das coleiras. Pediu que o Estado contribua com esses produtos e serviços e sugeriu criar um grupo de trabalho para combater as endemias em Marabá.
Alecio Stringari frisou que o resultado disso tudo foi uma falta de estrutura que Marabá não deu a essa situação. Lamentou a falta de agentes de endemias, agentes de saúde e que muitas áreas estão descobertas. O vereador ainda afirmou que a zona rural sofre, e falou que não são apenas cães, mas outros animais também. “É preciso combater a causa com educação na sociedade, também com conscientização nas escolas”, contextualizou Alecio.
Ana Raquel frisou que só haveria eficácia se o fumacê fosse realizado junto com o controle de foco: manejo ambiental, controle químico, teste nos animais e tratamento, além de um trabalho educacional.
O líder do Governo na Câmara, Márcio do São Félix sugeriu que se faça um levantamento do que existe hoje, e que seja apresentado um relatório para a Câmara do que é preciso para se avançar no combate à doença. Pediu que se utilize a tecnologia a favor do município e avalia que a castração dos animais é importantíssima.
O presidente da Câmara, Pedro Corrêa, o Pedrinho, falou que muitos problemas que recaem sobre a Secretaria de Saúde perpassam primeiro por outras áreas. Para ele, o objetivo da reunião não é achar culpados, mas sim soluções. Ele ainda enfatizou que a leishmaniose é um sério problema e que é preciso retomar as ações extra-muro na saúde, para alcançar a zona rural. Pedrinho também pediu a elaboração de um plano de ação e colocou que a Câmara será parceira nas ações e na busca de solução junto ao Executivo. “Devemos reativar o centro cirúrgico do CCZ e contratar agentes de endemias”. Finalizando seu discurso pedindo como encaminhamento a elaboração de um plano de ação com medidas preventivas no combate à leishmaniose.
Por fim, ficou definido como encaminhamento, que será apresentado à Câmara um plano de ação para que seja efetivado um trabalho continuado e sistemático em Marabá para combater a doença.
Participaram do evento os vereadores Gilson Dias, Frank Varão, Pedro Corrêa, Pastor Ronisteu, Priscila Veloso, Márcio do São Félix e Alecio Stringari.