Vereadores criticam negociações da Vale para construção de nova ponte

por Adriano Ferreira Carvalho Moura publicado 17/08/2022 08h45, última modificação 17/08/2022 08h45

Antes mesmo de começar, a construção de duas novas pontes sobre o Rio Tocantins, em Marabá, tem sido alvo de polêmica esta semana, quando uma família convidou a Imprensa e revelou que a Vale está iniciando a mobilização da obra e não fez nenhum tipo de indenização de quem mora por onde as obras de acesso serão executadas.
O primeiro a abordar o assunto na sessão desta terça-feira, 16 de agosto, na Câmara Municipal, foi o vereador Ilker Moraes. Ele reconheceu a importância das obras, mas disse acreditar que a Vale não respeita ninguém. Relatou o caso de Adelmar Pereira de Souza, que está sendo obrigado a deixar sua propriedade. “Ela (Vale) não tem documento do município e a SDU informou que não deu nenhum alvará para construção da ponte”, sustentou.
Por conta desse dilema, segundo Ilker, a família de Adelmar foi para o enfrentamento com a empresa nesta segunda-feira, 15. “É preciso entender que há direitos sendo lesados, tanto de uma cabeceira quanto da outra. Esta é mais uma ação da Vale desrespeitosa com as famílias de Marabá. A praxe dela é iniciar a obra e depois que os interessados reclamem. Nossa CPI da Vale aqui na Câmara não irá se render para o poder que a Vale acha que tem. Não estamos dispostos à conversa fiada dessa mineradora, que terá de pagar a conta atrasada para o município. A família de Adelmar tem documentos datados de 1965. “Não podemos nos calar. Fomos eleitos para ser voz do povo e não podemos aceitar condicionante de apenas R$ 75 milhões, como a empresa negociou só com o Executivo. Nosso maior problema em Marabá é a saúde pública, e nessa seara a Vale não tem contribuído com nada. Em outros municípios ela constrói hospital e o sustenta durante 10 anos. Essa Casa não participou de acordo sobre asfalto. Essa é mais uma esmola que a Vale está dando para Marabá”, criticou Ilker.
O vereador Alecio Stringari lembrou que a Vale está implantando o Salobo 3, triplicando a produção atual e não permitiu que Marabá tivesse ligação direta com o projeto. Além disso, a mineradora construção 90 km de asfalto e uma ponte sobre o Rio Itacaiunas a partir de Parauapebas para poder chegar ao Salobo, mas não fez nada pela região do Rio Preto, próxima ao projeto. “A Vale deveria pavimentar essa estrada do Rio Preto e ao, mesmo tempo, abrir uma estrada que desse acesso ao projeto, direto por Marabá”.
A vereadora Cristina Mutran disse que tanto os governos estadual e municipal se acachapam na relação com a Vale. Quando representantes da mineradora vêm à Câmara expor algum assunto ou ação que ela queira instalar no município. “Chegam posudos, principalmente na sala de comissões. Querem explicar projetos com linguagem técnica e tentamos acompanhar o raciocínio deles. Saem daqui e nos deixam cheios de esperança. Cabe aos governos estadual e municipal serem mais incisivos com a mineradora”, aponta.
Marcelo Alves disse que a negociação que está sendo feita, de condicionante para construção da ponte sobre o Rio Tocantins, haverá apenas R$ 75 milhões a serem aplicados em Marabá. “O HMM está no caos e a mineradora só ouve a prefeitura, não os vereadores. Precisamos, se necessário, paralisar os trilhos da ferrovia. Vão duplicar a ponte para retirar mais minério, não para ajudar Marabá. Não podemos aceitar só R$ 75 milhões de condicionantes, mas hospital e ônibus para o transporte público”, sugeriu
O vereador Márcio do São Félix lamentou que com os vereadores a Vale dialoga, mas na hora de decidir, fica a portas fechadas com o Executivo, sem falar com Legislativo. “Serão destinados R$ 70 milhões para asfalto e R$ 5 milhões para a saúde, sem discussão com Legislativo. Mais uma vez, a saúde não está sendo prioridade. Esse recurso extra não está contemplando a saúde, mas o que o Executivo quis”, lamentou.
Raimundinho do Comércio se disse indignado com a Vale e disse que conhece toda a família Medrado, do São Félix. Sabe que eles residem na região há muitas décadas e agora a mineradora está lesando a família mais uma vez. “Peço à Comissão Especial de Desenvolvimento que sente com a família, convoque a Vale para tentar achar uma saída. Eles não podem perder o direito à terra que sempre cultivaram”.
O vereador Aerton Grande revelou que, ao todo, são 14 famílias que a Vale precisa indenizar, mas está protelando o diálogo e acordo definitivo.
O vereador Miguel Gomes Filho também criticou a postura da Vale, mas crê que a maior responsabilidade esteja com o estado e município, que deveriam endurecer o discurso com a companhia. “Nós – estado e município – estamos aceitando migalhas da Vale. Aceitamos, no passado, que Marabá perdesse para Parauapebas toda a riqueza. A Buritirama está devendo R$ 75 milhões para nosso município. Se eu fosse prefeito, impediria a empresa de passar com caminhões de minério pelo município enquanto não pagasse o que deve”.