Vereadores visitam hospitais e alertam outras autoridades para o combate à covid-19
Uma comissão formada pelos vereadores Pedro Corrêa Lima (presidente), Marcelo Alves e Cabo Rodrigo (membro da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Marabá) visitou o Hospital de Campanha de Marabá e o Hospital Municipal de Marabá (HMM) esta semana, com a finalidade de avaliar o fluxo de atendimento aos pacientes com covid-19 que chegam às duas casas de saúde.
Na terça-feira, dia 5, a comissão de vereadores foi ao Hospital de Campanha por volta de 17 horas, onde foi recebida pela diretora do 11º Centro Regional de Saúde da Sespa (Secretaria de Estado de Saúde), Etiene Maria Costa Santos; pela diretora da Divisão de Organização, Controle e Avaliação do 11º CRS, Irlândia Galvão; pelo diretor do Hospital de Campanha, Kleber Somagere; e pelo médico Charles Roosevelt, diretor clínico do Hospital de Campanha. Também participou o secretário municipal de Saúde de Marabá, Luciano Lopes Dias.
Depois de iniciar a reunião, o presidente Pedro Corrêa passou a palavra para o secretário Luciano Dias, o qual apresentou o atual cenário da pandemia do coronavírus em Marabá, e disse como ficou frustrado com a negativa de regulação de pacientes para o Hospital de Campanha de Marabá nas últimas semanas. Ele pediu ao Estado que compartilhe a carga que chega ao Hospital Municipal, inclusive com vários pacientes de outros municípios, que deveriam ir para o Hospital de Campanha ou para o Hospital Regional.
Etiene Santos reconheceu que houve dificuldades de receber pacientes no Hospital de Campanha nas primeiras semanas, mas garantiu que o fluxo vai mudar a partir de agora, em função da enorme demanda da região por leitos. Observou, contudo, que sua equipe não possui toda a autonomia para resolver os problemas que se apresentam e que ela mesma foi escolhida pela Sespa para atuar como coordenadora da covid-19 junto ao Hospital de Campanha de Marabá.
A diretora do 11º Centro de Saúde da Sespa informou que nas primeiras semanas não havia medicação para os pacientes, mas atualmente estão disponíveis os essenciais para os que estão internados e ainda testes rápidos para serem feitos de acordo com o protocolo determinado pela Sespa, mas alertou que não são muitos. Etiene avalia que daqui para frente, o Estado e o município de Marabá vão conseguir atuar com mais sintonia porque, caso contrário, haverá saturação no sistema de saúde.
O diretor Kleber Somagere disse que entende a situação do município de Marabá no atual cenário de aumento de casos de coronavírus, mas que o papel previsto inicialmente para a OS (Organização Social) que gerencia o Hospital de Campanha era apenas de retaguarda, e por isso não tinha estrutura de alta complexidade.
Somagere contou que é de São Paulo e veio para Belém em 24 de março deste ano, quando tinham sido registrados apenas 6 casos suspeitos de coronavírus em Belém. Para ele, falta de UTI’s não é culpa do Estado e o que se idealizou no início era um hospital para servir como estrutura complementar para a existente na rede local. Por isso, trouxeram apenas leitos de enfermaria e de estabilização para poder regular o paciente para a referência do Hospital Regional Público do Sudeste quando necessário. Naquele contexto, foi trazido apenas um ventilador, emprestado de um hospital de Belém.
Mas na segunda-feira, dia 4 de maio, chegaram equipamentos para montar 10 leitos de UTI, o que na previsão dele deverão estar prontos na próxima sexta-feira, dia 8, caso consigam comprar alguns filtros de circuito fechado. Justificou que não consegue mudar, do dia para a noite, uma estrutura que não é adequada para receber UTI.
Sobre a regulação para receber pacientes no Hospital de Campanha, o diretor Kleber Somagere alegou que a recusa, a princípio, se justifica porque a OS seguia o fluxo determinado pelo contratante, no caso o governo do Estado. Às vezes, um paciente estava cadastrado no sistema da Sespa, mas não aparecia para o Hospital de Campanha. Todavia, confessou que não receberiam pacientes graves porque não tinham recursos para prestar o atendimento adequado.
QUESTIONAMENTOS
Ao final, o presidente Pedro Corrêa perguntou quantos municípios o Hospital de Campanha de Marabá deverá atender e qual a população dessa região. Etiene Santos revelou que há 23 municípios referendados para os dois hospitais do Estado em Marabá, com uma população de cerca de 1.250.000 pessoas. No caso do Hospital Regional do Sudeste, há 38 leitos de UTI, mas com apenas dez disponibilizados especificamente para pacientes com covid-19.
Questionado pelo vereador Cabo Rodrigo se já morreu algum paciente no Hospital de Campanha, o diretor informou que até aquela data havia sido registrado um óbito e revelou que o tempo médio de internação varia entre 14 a 21 dias. Atualmente, relatou, há 12 pacientes sendo cuidados naquela casa de saúde.
O vereador Marcelo Alves perguntou como serão usados os testes rápidos que foram enviados recentemente para o Hospital de Campanha e sugeriu que sejam remanejados para o Hospital Municipal, que está recebendo a maior parte do fluxo de pacientes com suspeita da doença.
Etiene Santos argumentou que os testes que chegaram serão usados para pacientes suspeitos que derem entrada no Hospital de Campanha.
HOSPITAL MUNICIPAL DE MARABÁ
Na reunião realizada no Hospital Municipal de Marabá na manhã do dia 6 de maio de 2020, os três vereadores representantes do Poder Legislativo foram recebidos pelo secretário municipal de Saúde, Luciano Lopes Dias; pelo diretor técnico do HMM, Luiz Sérgio Matos dos Santos; o diretor administrativo, Fabrício Barros; o diretor clínico Edinaldo Pereira Araújo; e por Michele Nunes, diretora de enfermagem.
O médico Luiz Sérgio explicou que toda a equipe do HMM está unida para atender os pacientes que estão chegando em busca de socorro e garantiu que as novas demandas que estão surgindo, tanto o prefeito Tião Miranda quanto o secretário Luciano Dias estão providenciando, adquirindo equipamentos e produtos dentro do que o mercado oferta no cenário atual.
Ele explicou aos vereadores que a equipe técnica elaborou planos A, B e C para atendimento dos casos de covid-19. No Plano A, foram montadas tendas na área externa do hospital para atendimento de pacientes que chegam com síndromes gripais.
No Plano B, a direção do HMM passou a fazer uso de uma ala que tinha acabado de ser construída para transferir a lavanderia, onde abriram espaço para mais 15 pacientes. Além disso, também foi desativada, momentaneamente, a ala psicossocial e os pacientes estão sendo atendidos no CAPS (Centro de Apoio Psicossocial) até o fim da pandemia. No novo espaço, passaram a ser internados pacientes em estado grave de covid-19.
O médico Luiz Sérgio prevê que em pouco tempo precisará colocar para funcionar o plano C, desativando momentaneamente a ala pediátrica para alocação entre 30 a 40 leitos e macas. Até o momento, a capacidade de ocupação dos leitos existentes está em 100%.
Ele afirmou que as limitações de atendimento neste momento não são financeiras, mas de conseguir os equipamentos em função de uma grande procura no mercado. Disse que a demanda tem sido tão grande que o HMM já foi obrigado a receber, por determinação judicial, dois pacientes oriundos de Rondon do Pará.
Por outro lado, Luiz Sérgio reconheceu que há críticas internas de alguns colegas de trabalho no HMM, mas pondera que elas sempre vão existir, geralmente relacionadas à disponibilização de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). Sustentou que a Secretaria de Saúde adquiriu esses produtos, mas que a utilização se dá de acordo com a exposição de cada profissional.
Ele destacou, ainda, que vários funcionários foram contratados porque profissionais do hospital, como ele, contraíram a covid-19.
Michele Nunes, diretora de enfermagem do HMM, disse que Marabá não está pior no cenário de covid-19 porque estabeleceu, bem cedo, várias medidas por meio do comitê municipal para resolver os problemas relacionados à covid-19.
Contabilizou que 11 funcionários foram afastados por conta dos problemas relacionados à covid-19; outros 11 por fazerem parte de grupos de risco; e 20 apresentaram atestados de saúde. Por outro lado, houve 20 contratações e a Prefeitura convocou outros profissionais aprovados em concurso público, o que está ajudando a suprir a demanda. Já no Hospital Regional, o índice de afastamento por covid-19 está em cerca de 20%.
Na visita ao Hospital de Campanha, a Comissão de vereadores percebeu uma grande falta de autonomia administrativa e financeira da direção local da Sespa para resolver os problemas existentes.
Durante a visita ao HMM, os vereadores identificaram muitos pacientes internados e até em estado grave, o que acendeu o alerta para a necessidade de massificar a orientação à população para que fique em casa durante a pandemia do coronavírus.
A Comissão constatou, ainda, que há muita subnotificação de casos desta doença, considerando que o município não tem à disposição testes rápidos e a procura por avaliação é grande no Hospital Municipal.
Outro item que chamou a atenção foi a necessidade de abertura de mais leitos de UTI, uma vez que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) – feita antes da atual pandemia – é de que os países tenham de um a três leitos disponíveis em UTI para cada 10 mil habitantes. Assim, só a população de Marabá precisaria de 75 leitos. Considerando todos os habitantes da região, seriam necessários cerca de 350 leitos em todos os hospitais, mas não existe nem um terço disso.
Abaixo, leia os encaminhamentos da Comissão para o Governo do Estado e também para a Prefeitura de Marabá, a fim de melhorarem o atendimento aos pacientes de covid-19:
ENCAMINHAMENTOS AO GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ:
1. Implantação urgente de mais 30 leitos de UTI no Hospital de Campanha, para que a capacidade física da unidade possa totalizar 40 leitos;
2. Disponibilização de teste rápido para Marabá em virtude da evidente subnotificação no município;
3. Descentralização do LACEN com implantação de unidades nas mesorregiões do Estado;
4. Fazer convênio com hospitais da rede particular como retaguarda de atendimento aos pacientes com Covid19;
5. Contratação de hotéis para hospedar os profissionais de saúde e segurança à serviço do Estado que estão atuando na linha de frente no combate à Covid19 e que precisam de isolamento domiciliar;
6. Dar plena autonomia administrativa e financeira à Direção do 11º CRS/SESPA, durante o período de Pandemia, para maior agilidade nas ações da regional.
7. Implementar abono, no período da pandemia, para servidores estaduais da saúde e segurança que estão atuando na linha de frente de combate à Covid19;
ENCAMINHAMENTOS À PREFEITURA DE MARABÁ:
1. Disponibilizar testes rápidos e medicamentos para tratamento de síndromes respiratórias agudas nas UBS;
2. Implementar abono, no período da pandemia, para servidores municipais da saúde e segurança que estão atuando na linha de frente de combate à Covid19;
3. Realizar o pagamento de insalubridade para servidores municipais da saúde e segurança que estão atuando na linha de frente de combate à Covid19;
4. Reajustar o valor dos plantões dos profissionais de saúde que atendem em unidades de saúde do município;
5. Disponibilizar cabines de desinfecção no Hospital Materno Infantil, na SSAM – Serviço de Saneamento Ambiental de Marabá e na Rodoviária do KM 6;
6. Fazer convênio com hospitais da rede particular como retaguarda de atendimento ao pacientes com Covid19;
7. Contratação de hotéis para hospedar os profissionais de saúde e segurança à serviço do Município de Marabá que estão atuando na linha de frente no combate à Covid19 e que precisam de isolamento domiciliar;
8. Executar as emendas impositivas de 2018 e 2019 que foram realocadas pelos vereadores para ações de combate à COVID19 das Secretarias de Saúde e Assistência Social, bem como ações que beneficiem as famílias de baixa renda em dificuldades econômicas agravadas pela pandemia.